domingo, 9 de setembro de 2012

O PARADOXO DA CRUZ E A DEIDADE DE CRISTO POR MELITO DE SARDES


“Aquele que pendurou a terra foi pendurado.
Aquele que fixou os céus no lugar foi fixado no lugar.
Aquele que deitou as bases do universo foi deitado numa árvore.
O Senhor foi profanado.
Deus foi assassinado.”
(Homily on the Passion 96, in Stewark-Sykes, Melito of Sardis, 64.)

Apenas recentemente, fui apresentado a esse texto pelo Ms. Franklin Ferreira durante nosso período intensivo de aulas no Seminário Martin Bucer, onde estamos a cada encontro, experimentando o que em meu entendimento, denomino como a mais salutar síntese entre espiritualidade e ortodoxia oferecida em uma instituição de ensino teológico.
Minha compreensão quanto à dimensão desse pequeno trecho da “Homilia da Paixão” de Melito de Sardes, foi extremamente aguçada pela leitura devocional (Jo 6.53-58) oferecida durante a celebração da emblemática Santa Ceia realizada no decorrer de nosso ultimo dia das atividades no Seminário.
Cristo nos convida a uma comunhão mística de profunda intimidade e cumplicidade em sua obra vicária. O texto bíblico fala com uma força tão irresistível e auto-suficiente, que mesmo sem nenhuma palavra tendo sido proferida além das Sagradas Letras, todos na sala nos vimos envolvidos e plenamente identificados de significado com a transcendência do símbolo e dos elementos oferecidos.
Mas antes que venha a inevitável pergunta: no que tal experiência relaciona-se com a citação em epígrafe? Sou impelido em afirmar: “Nenhuma proposição, por mais bem formulada e ainda que bem adornada pela poética ou retórica é suficiente em revelar os incomensuráveis mistérios intrínsecos as Escrituras e as verdades reveladas em suas páginas”. Mesmo diante da exuberante declaração de Melito quanto ao paradoxo da Cruz e a Deidade de Cristo, confesso que minha compreensão só foi aguçada e alçada à dimensão adequada do texto, quando minha leitura foi “permeada” de significado pelas Escrituras e pelo momento de comunhão no qual estávamos inseridos. A impressão deixada a priori, havia sido completamente “impregnada” de significado e força e só então, me foi possível entender o que aqueles professores estão lutando por nos ensinar e o significado das tão bem proferidas palavras do reformador João Calvino: “Orare e labutare”, ou seja, uma dependência da intervenção do Espírito Santo que vá além da tomada de consciência de tal verdade, mas de uma vívida e imprescindível comunhão com o autor das Escrituras, e do qual provém toda forma de sabedoria, tanto à compreensão do saber acadêmico, quanto das celestiais verdades permeadas por toda as Escrituras.
A dimensão textual foi tomada não apenas de significação literária e teológica, mas capaz de proporcionar comunicação de valor e propriedade a este humilde leitor e assim, interagir com a dimensão narrativa e só então, apropriar-me de toda a relevância cabível a originalidade e profundidade expressa pela obra.
Rogo ao Senhor que propicie a todos os seus servos, “escravos”, a real compreensão e apreensão da verdade envolta na submissão de sua boa, agradável e perfeita vontade. Que reconheçamos que a verdadeira sabedoria reside no temor do Senhor e em nos sujeitar a total dependência de sua operosidade e em termos nossas mentes cativas a iluminação de seu Santo Espírito. Em Cristo.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Afinal, o que está errado com a teologia da prosperidade?

"Excelente, atual e imprescindível. Nada mas urgente, que divulgar esta maravilhosa análise realizada pelo Dr. Nicodemus. Espero que ajude a reflexão e conscientização de nossos irmãos. Paz." Postado por Augustus Nicodemus Lopes Apesar de até o presente só ter melhorado a vida dos seus pregadores e fracassado em fazer o mesmo com a vida dos seus seguidores, a teologia da prosperidade continua a influenciar as igrejas evangélicas no Brasil. Uma das razões pela qual os evangélicos têm dificuldade em perceber o que está errado com a teologia da prosperidade é que ela é diferente das heresias clássicas, aquelas defendidas pelos mórmons e "testemunhas de Jeová" sobre a pessoa de Cristo, por exemplo. A teologia da prosperidade é um tipo diferente de erro teológico. Ela não nega diretamente nenhuma das verdades fundamentais do Cristianismo. A questão é de ênfase. O problema não é o que a teologia da prosperidade diz, e sim o que ela não diz. • Ela está certa quando diz que Deus tem prazer em abençoar seus filhos com bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que qualquer bênção vinda de Deus é graça e não um direito que nós temos e que podemos revindicar ou exigir dele. • Ela acerta quando diz que podemos pedir a Deus bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que Deus tem o direito de negá-las quando achar por bem, sem que isto seja por falta de fé ou fidelidade de nossa parte. • Ela acerta quando diz que devemos sempre declarar e confessar de maneira positiva que Deus é bom, justo e poderoso para nos dar tudo o que precisamos, mas erra quando deixa de dizer que estas declarações positivas não têm poder algum em si mesmas para fazer com que Deus nos abençoe materialmente. • Ela acerta quando diz que devemos dar o dízimo e ofertas, mas erra quando deixa de dizer que isto não obriga Deus a pagá-los de volta. • Ela acerta quando diz que Deus faz milagres e multiplica o azeite da viúva, mas erra quando deixa de dizer que nem sempre Deus está disposto, em sua sabedoria insondável, a fazer milagres para atender nossas necessidades, e que na maioria das vezes ele quer nos abençoar materialmente através do nosso trabalho duro, honesto e constante. • Ela acerta quando identifica os poderes malignos e demônicos por detrás da opressão humana, mas erra quando deixa de identificar outros fatores como a corrupção, a desonestidade, a ganância, a mentira e a injustiça, os quais se combatem, não com expulsão de demônios, mas com ações concretas no âmbito social, político e econômico. • Ela acerta quando diz que Deus costuma recompensar a fidelidade mas erra quando deixa de dizer que por vezes Deus permite que os fiéis sofram muito aqui neste mundo. • Ela está certa quando diz que podemos pedir e orar e buscar prosperidade, mas erra quando deixa de dizer que um não de Deus a estas orações não significa que Ele está irado conosco. • Ela acerta quando cita textos da Bíblia que ensinam que Deus recompensa com bênçãos materiais aqueles que o amam, mas erra quando deixa de mostrar aquelas outras passagens que registram o sofrimento, pobreza, dor, prisão e angústia dos servos fiéis de Deus. • Ela acerta quando destaca a importância e o poder da fé, mas erra quando deixa de dizer que o critério final para as respostas positivas de oração não é a fé do homem mas a vontade soberana de Deus. • Ela acerta quando nos encoraja a buscar uma vida melhor, mas erra quando deixa de dizer que a pobreza não é sinal de infidelidade e nem a riqueza é sinal de aprovação da parte de Deus. • Ela acerta quando nos encoraja a buscar a Deus, mas erra quando induz os crentes a buscá-lo em primeiro lugar por aquelas coisas que a Bíblia constantemente considera como secundárias, passageiras e provisórias, como bens materiais e saúde. A teologia da prosperidade, à semelhança da teologia da libertação e do movimento de batalha espiritual, identifica um ponto biblicamente correto, abstrai-o do contexto maior das Escrituras e o utiliza como lente para reler toda a revelação, excluindo todas aquelas passagens que não se encaixam. Ao final, o que temos é uma religião tão diferente do Cristianismo bíblico que dificilmente poderia ser considerada como tal. Estou com saudades da época em que falso mestre era aquele que batia no portão da nossa casa para oferecer um exemplar do livro de Mórmon ou da Torre de Vigia...

A VERDADEIRA EPISTEMOLOGIA ESTÁ NAS ESCRITURAS

“Não me peça para aceitar aquilo que as Escrituras reprovam. Não há argumento capaz de refutar o que o próprio Deus fundamentou e através de seu filho Jesus ratificou. A verdadeira sabedoria é subserviente e origina-se de uma consciência cativa e humilhada pelo esplendor da onisciência do Todo Poderoso Deus. Trago minha vida e consciência, como subjugadas as Sagradas Letras, para que delas e apenas delas, possa alcançar a plenitude do ser e só assim, possuir a mente e o caráter de Cristo Jesus, meu Senhor e Salvador. Amém.” (Alexsandro Sant’Anna)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

TRÊS PILARES NO CONCEITO SECULAR DE CULTURA

"Resolvi postar e divulgar este excelente texto do Pr. Gilson Santos, por entender ser este extremamente oportuno e essencial ao nosso contexto. O conceito de cultura precisa ser desmistificado e entendido de maneira séria e analisado também sobre a cosmovisão cristã. Textos como este, nos ajudam a uma reflexão mais séria e ampla da realidade cristã e com o compromisso de nossas verdades e pressupostos. Em Cristo".
A origem da nossa palavra “cultura” encontra-se na língua latina. O radical da palavra é o riquíssimo verbo latino colo, que tem o sentido original de “cultivar”. O vocábulo latino cultus (particípio de colo) tem, portanto, inicialmente o sentido de cultura da terra. O verbo assumiu o sentido de “cuidar de”, “tratar de”, “querer bem”, “ocupar-se de”, “adornar”, “enfeitar”. Depois o sentido de “civilização”, “educação”; e também o sentido de “adorno”, “moda”, “decoração”. Mais recentemente, os alemães tomaram a palavra cultura num sentido mais amplo, para referir-se ao cultivo de hábitos, interesses, língua e vida artística de uma nação. Atualmente, na língua portuguesa talvez não exista nenhuma outra palavra com sentido mais abrangente do que esta palavra. Por cultura se entende muita coisa. Cultura é o campo de estudo da antropologia. Diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Não pode existir uma sociedade sem cultura. Utilizamos aqui, portanto, uma concepção ampla de cultura, que diz respeito a tudo o que caracteriza uma realidade social, a existência social de um povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma sociedade. As conclusões do Congresso de Lausanne sugerem o seguinte conceito: Cultura é um conjunto integrado de crenças, de valores, de costumes, e de instituições que expressam estas crenças, valores e costumes, que unem a sociedade e lhe proporcionam um sentido de identidade, de dignidade, de segurança e de continuidade. O conceito moderno e secular de cultura sustenta-se sobre três pilares:
A IDEIA DE TOTALIDADE No conceito de cultura, a ideia de totalidade está presente, pois cultura diz sempre respeito a processos globais dentro da sociedade. A cultura implica uma certa medida de homogeneidade. Michael Horton, em seu livro O Cristão e a Cultura, salienta esta característica globalizadora no conceito, quando escreve que “embora em cada cultura existam muitas subculturas, existem tendências que marcam um povo”. O antropólogo brasileiro Roberto da Matta diz que não há cultura se não houver uma “tradição viva, conscientemente elaborada que passe de geração para geração”, que permita individualizar ou tornar singular e única uma dada comunidade relativamente às outras (constituídas de pessoas da mesma espécie). É a tradição que dá à coletividade “a consciência do seu estilo de vida.” A cultura une várias gerações durante uma época. O processo mediante o qual as pessoas aprendem o modo de vida da sua sociedade é denominado de enculturação. A cultura é dinâmica e sofre mudanças. A cultura nunca é estática. Quando a mudança é mais rápida do que a capacidade da comunidade adaptar-se a ela, podemos falar corretamente de um “choque cultural. A cultura implica, assim, uma certa medida de homogeneidade. Não obstante, dentro de uma cultura também podem haver subculturas, em que a unidade maior pode ser uma comunidade, um clã, ou uma tribo pequena, etc. Se as variações ultrapassam determinado limite, surge uma contracultura, e este processo pode se tornar muito destrutivo. O termo “contracultura” foi cunhado nos anos sessenta pela imprensa norte-americana. A palavra dizia respeito ao espírito libertário e questionador da racionalidade ocidental. Uma das características básicas do conceito é o fato de se opor, de diferentes maneiras, à cultura vigente e oficializada pelas principais instituições das sociedades do Ocidente. Uma postura, ou até uma posição, de crítica radical em face da cultura convencional. Homens e mulheres precisam de uma existência unificada. Sua participação em uma cultura é um dos fatores que lhes proporciona o sentido de pertencer a algo. A cultura dá um sentido de segurança, de identidade, de dignidade, de ser parte de um todo maior e de partilhar a vida de gerações anteriores e também das expectativas da sociedade com respeito a seu próprio futuro. A IDEIA DE NATURALIDADE A antropologia secular corretamente afirma que cultura é uma realidade humana. Cultura é algo humano em sua origem, e no sentido em que se relaciona com o homem, em sua individualidade e em seus relacionamentos sociais, e com o meio em que vive. Entretanto, a antropologia secular afirma o caráter estritamente natural da cultura. Isto é, o homem é a origem e o objeto exclusivos da cultura. O antropólogo e o sociólogo seculares abordam o estudo da cultura compreendendo o mundo como um sistema fechado, em que todos os fatores da formação cultural, inclusive o religioso, estão contidos dentro do sistema e determinados por ele, de modo que as próprias alegações do conhecimento de âmbitos sobrenaturais ou supraculturais são, elas mesmas, um produto do sistema. Em contraponto, alguns antropólogos cristãos fazem uma consideração do âmbito “supracultural” da realidade na sua interação com os fatores culturais. Por “supracultura” eles se referem aos “fenômenos da crença e do comportamento cultural que têm sua origem fora da cultura humana”. O Pacto de Lausanne asseverou: “Uma vez que o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e bondade. Pelo fato do homem ter caído, toda a sua cultura (usos e costumes) está manchada pelo pecado e parte dela é de inspiração demoníaca”. Conclui-se que, da perspectiva cristã, a realidade do âmbito dos reinos espirituais é algo que necessita ser considerado em seu estudo da cultura. Segundo os teólogos reunidos em Lausanne, a primeira origem supracultural dos fenômenos na cultura é a divina, e a segunda origem supracultural é a demoníaca. Sob tal entendimento, a Bíblia clama por arrependimento e reforma e a história registra numerosos casos de mudança cultural para melhor. Como seres humanos caídos, nenhuma das culturas é perfeita em verdade, beleza e bondade. No âmago de toda cultura (quer seja esse cerne uma visão “religiosa” ou “secular”) há um elemento de egocentrismo, de auto-adoração do homem. Portanto, a interação entre o conteúdo supracultural e a forma cultural é reputada como importante em qualquer abordagem adequada nas relações entre a Igreja e a Cultura. A cultura nunca é neutra, sob essa ótica. Cada cultura refletiria um conflito. A religião nunca é meramente uma questão humana, mas, sim, um encontro dentro do âmbito supracultural. No centro da cultura há uma cosmovisão, ou seja, uma compreensão geral do caráter do universo e do lugar que se ocupa neste universo. Esta compreensão pode ser “religiosa”, ou pode expressar um conceito “secular” da realidade, como a proposta de sociedade do marxismo materialista. A IDEIA DE NEUTRALIDADE A antropologia secular resiste ao conceito de que os valores culturais possuem mérito e qualidade. Aqui está outro desafio para o cristão diante da antropologia contemporânea. A visão da sociedade secular tende a considerar a cultura, em suas variadas formas de expressão, como moralmente neutra. Grosso modo, não existe o “certo” ou o “errado” quando se trata de cultura. Seria tudo, em rigor, uma questão de usos, costumes e convenções. Assim, isto se conecta com a idéia de relatividade. Logo, tentativas de correções de aspectos culturais são consideradas como um impróprio juízo de valor, e rotuladas de etnocentrismo cultural ou violência cultural. “Todas as religiões têm que abandonar a sua arrogância teológica. Nenhum grupo religioso pode jactar-se de ser superior ao outro em termos de verdade, porque a religião está associada à cultura. E não existe uma cultura superior à outra. Todas são igualmente boas. Todas as tradições religiosas culturais têm os seus valores salvíficos”. Um jornalista escreveu recentemente que alunos brasileiros têm sido ensinados nas escolas a considerarem que “o canibalismo, os sacrifícios humanos ou rituais para tornar os inimigos sexualmente impotentes são expressões religiosas tão respeitáveis quanto a fidelidade judaica e a piedade cristã”. O corolário lógico disto é que, portanto, não há mais necessidade de “conversões”. Essa pressuposição também esvazia o conceito de missões religiosas em terras estrangeiras ou transculturais. Há, portanto, uma tendência de conceituar cultura de maneira que todas as formas comportamentais são aceitas como válidas e até mesmo valiosas. Essa mesma tendência se estende a outras áreas de realizações humanas, como por exemplo, às artes plásticas e à música. Tende-se a acolher tudo o que provêm espontaneamente de um povo, e o fato cultural é reduzido a uma questão de estilo. Daí colocar-se um desafio para os cristãos, visto que estes assumem que existe um padrão aferidor da cultura. Alguém que leu este texto comentou que ele também “levanta a questão da contextualização, que não pode ser evitada pela igreja evangélica à cada geração”. E acrescentou: “Pessoalmente, acho que cada cultura mantém traços da Queda, que se revelam em práticas e costumes e ritos e jeitos de ser. O Evangelho pode se aproveitar da cultura desde que a expurgue destes traços remanescentes da vida de Adão. Esse é o desafio”. Um comentário muito pertinente, segundo me parece.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Katharina Von Bora (Esposa de M. Lutero)

“Segue um dos textos mais belos referente a biografias que pude ler neste ano. Confesso que me comovi ao ponto de ver-me em lágrimas.
Nossas famílias são jóias raríssimas a nós presenteadas pelo Pai, delas derivam nossas forças e conforto.
Amem suas famílias e zelem por benção tão inefável. Que Deus nos ajude. Amém”.

Por James I. Good
Uma das figuras femininas mais importantes da Reforma Protestante do Século XVI foi, sem dúvida, Katharina Von Bora. Não que ela tenha praticado qualquer grande ato heróico, se envolvido pessoalmente em grandes controvérsias ou sido martirizada em virtude da sua fé. No dizer de um de seus biógrafos: “ela não escreveu nenhum livro nem jamais pregou um único sermão, mas seu inestimável auxílio possibilitou que seu marido fizesse tudo isso como poucos na história da igreja.” Estamos falando da Sra. Lutero.
Katharina nasceu em 1499, filha de um nobre alemão que passava por dificuldades financeiras. Aos 3 anos de idade, perdeu sua mãe, e seu pai a levou para estudar na escola do convento Beneditino, onde vivia sua tia Madalena Von Bora. Aos 9 anos, entrou para o convento propriamente dito, tornando-se freira aos 16 anos de idade.
Quando Lutero fixou as suas famosas 95 teses nos portões da Capela de Wittemberg, Katharina estava com 18 anos de idade. Entretanto, ela e outras freiras do convento ouviram falar do ensino bíblico de Lutero, e crendo no que ele pregava, desejaram abandonar a clausura. Escreveram a seus pais, mas eles não tomaram nenhuma atitude no sentido de libertá-las. Decidiram então escrever a Lutero, tendo a carta sido redigida pela própria Katharina. Quando o reformador tomou conhecimento do fato, encorajou um amigo negociante a ajudá-las a escapar. Esse homem, Leonardo Koppe, ia freqüentemente ao convento, levando alimentos e todo tipo de mantimentos para abastecer o mosteiro, e uma noite em 1523, ajudou-as a fugir, transportando as 12 noviças em um barril de peixes! Muitas retornaram às suas famílias. Lutero procurou auxiliar a todas, ajudando-as a encontrar moradias, maridos e empregos. Dois anos após a fuga, todas haviam seguido seu destino, exceto Katharina, que morou por um curto período de tempo na casa do pintor Lucas Cranach, autor de seu famoso retrato.
Em 1524, com a aprovação e recomendação de Lutero, Katharina foi cortejada por um dos alunos de Wittemberg, mas seu pai se opôs ao casamento. Neste mesmo ano, Lutero arrumou-lhe um novo pretendente, o Pastor Glatz, mas ela recusou-se a desposá-lo. Ela costumava dizer: “Só me casarei com o Dr. Lutero ou com alguém muito parecido com ele”. Lutero ria ao ouvir isso, pois apesar de, já àquela altura, condenar o celibato, não tinha intenção de casar-se: “nunca farão com que eu me case!”, afirmou ele. Alguns garantem que ele chegou a interessar-se por outra ex-freira, Ave Von Schonfeld, mas o relacionamento parece não ter prosperado.
Porém, gradualmente, tanto pela convivência, como por insistência dos seus amigos e seu pai, Lutero acabou propondo casamento à Katharina. Eles ficaram noivos em 13 de junho de 1525 e casaram no dia 25 de junho daquele mesmo ano, ou seja, doze dias depois! A decisão parece ter causado surpresa, pois o próprio Melanchton, escrevendo a um amigo, declarou: “Inesperadamente, Lutero desposou Bora sem querer mencionar seus planos ou consultar seus amigos”. Muitos foram contra o casamento, pelos motivos mais variados. Primeiramente porque, àquela altura, ainda não se admitia que os religiosos contraíssem matrimônio: tratava-se de um escândalo! Segundo, pela grande luta que o reformador vinha travando conta Roma: na condição de herege e proscrito, sua vida estava em constante perigo. Outra razão era a diferença de idade: quando casaram, Lutero estava com 42 anos e Katharina com 26! Ela também sofreu difamações pela união com o reformador, mas, felizmente, o casamento ocorreu e eles viveram felizes por cerca de 21 anos, até a morte do reformador. São curiosos alguns escritos de Lutero sobre esse período inicial de sua vida matrimonial. Escrevendo a um amigo ele declarou: “Existem algumas coisas com as quais precisamos nos acostumar no primeiro ano de casamento; o sujeito acorda de manhã e encontra um par de tranças postiças no travesseiro, onde antes não havia nada!” Entretanto, após um ano de casado, escreveu: “Minha Kathe é, em tudo, tão dedicada e encantadora que eu não trocaria minha pobreza pelas maiores riquezas do mundo”. E mais tarde: “Não há na terra um laço tão doce, nem uma separação mais amarga como a que ocorre num bom casamento”. Finalmente, é bem conhecida sua declaração: “Não há relação mais bela, mais amável e mais desejável, nem comunhão e companhia mais agradável do que a de marido e mulher num casamento feliz”.
O príncipe Frederico havia dado de presente a Lutero o prédio do mosteiro agostiniano em Wittemberg, e foi para lá que a família se mudou em 1525. Katharina reformou o mosteiro e o administrou, o que veio a permitir que Lutero gozasse de relativa paz e ordem em sua vida privada. Ela dirigia e administrava as finanças da família, para que ele pudesse dedicar-se às tarefas que essencialmente lhe competiam: escrever, ensinar e pregar. Ela foi uma esposa dedicada e diligente, a quem Lutero freqüentemente se referia como “Kathe, minha patroa (no inglês, my lord)”. Eles tiveram 6 filhos, dos quais 4 sobreviveram até à idade adulta. Além disso, cuidavam de uma parenta de Katharina e, em 1529, com a morte da irmã do reformador, mais 6 crianças – agora órfãs – se juntaram à família. Além dos familiares e de um cachorro de estimação, era comum haver mais de 30 pessoas no mosteiro, entre hóspedes, viajantes em trânsito e estudantes (eles costumavam receber estudantes, que pagavam pelos seus estudos, ajudando assim a equilibrar o orçamento doméstico). Desse modo, sua rotina diária era bastante atarefada: ela tinha uma horta, um orquidário, confeccionava material para pescaria, e acabaram, posteriormente, adquirindo uma pequena fazenda onde criavam gado, galinhas e fabricavam cerveja caseira. Ela também gostava de ler e de bordar. Lutero costumava chamá-la de “a estrela da manhã de Wittemberg”, já que diariamente levantava às 4 horas da madrugada para dar conta de suas muitas responsabilidades. Com muita freqüência, o reformador caía enfermo, e Katharina cuidava dele não simplesmente como esposa, mas quase como enfermeira, devido aos grandes conhecimentos médicos que possuía.
Entretanto, sua vida não era somente dedicada a coisas materiais. Seu marido a encorajava em seus estudos bíblicos devocionais e sempre sugeria algumas passagens particulares para que memorizasse. Quando ele se encontrava deprimido, era a sua vez de ajudá-lo: sentava-se ao seu lado e lia a Bíblia para ele, edificando o seu coração. Conta-se que, certa vez, Lutero estava bastante deprimido. Não se alimentava e passava os dias trancafiado em seu quarto. Estava cheio de dúvidas sobre se o que fazia era ou não da vontade de Deus. Katharina vestiu-se de preto e entrou subitamente no aposento. Lutero tomou grande susto, pensando que alguém tinha morrido. Katharina respondeu: “Ao que parece, Deus morreu!” A reação de Lutero foi imediata: levantou-se e saiu do quarto, agradecendo à esposa por fazê-lo retornar à vida.
Em termos de recreação, Lutero gostava de participar de jogos ao ar livre com a família, e também apreciava os jogos de mesa, como o xadrez, além de jardinagem e música. Ele e Katharina eram pais diligentes, “disciplinando seus filhos, em amor”. Seu lar era famoso pela vitalidade e felicidade ali reinantes. Dessa forma, a família do reformador tornou-se um modelo para as famílias cristãs alemãs por muitos anos. Lutero considerava o casamento como a melhor escola para moldar o caráter e a vida familiar um método excelente e apropriado para treinar e desenvolver as virtudes cristãs da firmeza, paciência, bondade e humildade.
Lutero faleceu em 1546, e Katharina ainda viveu por mais 6 anos. Ela chegou a ver seus filhos atingirem a idade adulta, alcançando posições de influência na sociedade, exceto aqueles que morreram na infância, causando grande sofrimento as pais: sua primeira filha (Elizabeth) que morreu aos 8 meses de idade, e a segunda filha (Madalena) que faleceu aos 13 anos. Para termos uma idéia desses sofrimentos, segue um breve relato. Quando Madalena adoeceu gravemente, Lutero orou: “Senhor, eu amo muito a minha filha, mas seja feita a tua vontade”. Ajoelhando-se junto à cabeceira de sua cama, falou: “Madalena, minha menina, eu sei que você gostaria de permanecer aqui com seu pai, e também sei que gostaria de ir encontrar-se com o seu Pai no céu. Ela, sorrindo, respondeu: “Sim, papai, como Deus quiser”. Finalmente, depois de alguns dias, ela faleceu em seus braços, e no seu sepultamento, Lutero disse chorando: “Minha querida e pequena Lena, como você está feliz! Você ressurgirá e brilhará como o Sol e as estrelas... É uma cosa esquisita – eu saber que ela está feliz e em paz, e ainda assim, me sentir tão triste!”
Quanto aos outros filhos, o mais velho (Hans) estudou Direito e tornou-se conselheiro da corte. O segundo (Martin), estudou Teologia. O terceiro (Paul), tornou-se um médico famoso, e a terceira filha (Margareth) casou-se com um rico prussiano. A título de curiosidade: os descendentes de Lutero que ainda vivem, descendem de sua filha Margareth, dentre eles, o ex-presidente da Alemanha, Paul Von Hindenburg.
No mesmo ano da morte de Lutero (1546), Katharina deixou Wittemberg e fugiu para Dessau, devido à guerra smalkaldiana e, em 1552, viajou para Torgau, fugindo de uma peste que grassara em Wittemberg. Ela morreu em 20 de dezembro de 1552 na cidade de Torgau.
Encerro esse breve relato sobre a vida de Katharina citando o último testemunho do seu esposo. Escrevendo, certa vez, a um amigo, ele disse: “Minha querida Kate me mantém jovem, e em boa forma também... Sem ela, eu ficaria totalmente perdido. Ela aceita de bom grado minhas viagens e quando volto, está sempre me aguardando com alegria. Cuida de mim nas minhas depressões e suporta meus acessos de cólera. Ela me ajuda em meu trabalho, e acima de tudo, ama a Cristo. Depois Dele, ela é o maior presente que Deus já me deu nesta vida. Se algum dia vierem a escrever a historia de tudo o que já tem acontecido (a Reforma), espero que o nome dela apareça junto ao meu. Eu oro por isso...”.
Ao tomar conhecimento dessa declaração, Katharina respondeu: “Tudo o que tenho feito se resume a simplesmente duas coisas: ser esposa e mãe, e tenho certeza que uma das mais felizes de toda a Alemanha!”.
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Texto extraído do livro Grandes Mulheres da Reforma, de James I. Good (editada por Lays Anglada) – Knox Publicações.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

OS PURITANOS E A SOBERANIA DE DEUS - Estavam no mundo, mas não eram do mundo



“Excelente e apropriado texto de Carlos Reghine. Decidi postá-lo por entender a necessidade que o cristão de hoje tem de exemplos práticos. Em minha compreensão os puritanos foram exatamente isso, o cristianismo pratico em sua excelência “por toda” a extensão da vida cotidiana, onde o vislumbre da soberania de Deus e a busca pela sua glória e a paixão pela pureza, estavam permeados e permeando todo o viver do povo de Deus”.

Depois da Reforma Protestante na Escócia e na Inglaterra, houve um período de esfriamento e baixa no modo de vida cristão da época, o que levou alguns cristãos a não mais permitir acréscimos de tradição humana nos cultos a Deus, alegando a quebra do segundo mandamento, reclamaram que a tradição dificultava a clareza do Evangelho e impedia o poder de Deus sobre a Igreja, esses cristãos da Escócia e Inglaterra ficaram conhecidos como Os Puritanos, palavra que vem do inglês e significa purificar.

Eles queriam purificar o culto a Deus, através da Palavra, queriam purificar também o governo da Igreja, a vida da família, o comércio, os negócios e posteriormente até o governo civil. SegundoRev. Augustus Nicodemus Lopes[1]: “Eles queriam reformar as escolas e as universidades à luz da Palavra de Deus. Por isso começaram a orar e a pregar para que toda a terra, em todos os aspectos do país, fosse reformada pela Palavra”. Tinham uma consciência de que a Palavra de Deus juntamente com o Espírito traz a vitória, a vida e a reforma. Sofreram grandes perseguições, inclusive do governo inglês que temia que a Igreja tivesse um poder político grande.

A Soberania de Deus, ênfase da doutrina utilizada pelos calvinistas, era um dos pontos que prevaleciam na vida de um puritano, eles eram ativos e corajosos, resistindo às perseguições, sentiam uma satisfação interior em saber que estavam salvos, que tinham uma comunhão direta com Deus, e essas pessoas eram dentre outras: donas de casa, artesãos e comerciantes, mas que eram fortes, pois sentiam a presença do Espírito de Deus, tinham a convicção de que eram eleitos de Deus, através de Cristo, o que deu-lhes autoconfiança numa época em que havia tanta incerteza econômica e adversidade política. Segundo Rev. Augusto Nicodemus Lopes comenta sobre o Prof. Hill: "foi essa coragem e confiança que capacitavam os Puritanos a lutar por meio de armas espirituais, econômicas ou militares, para criar um mundo novo, digno daquele Deus que os havia abençoado de forma tão marcante". O Dr. Perry Miller da Universidade de Harvard, que é o grande historiador dos Puritanos nos E.E.U.U., certa vez disse: “É impossível você imaginar um Puritano sem esperança; eles criam na Soberania de Deus, e isso os fazia agir em face de qualquer dificuldade. Eles sabiam perfeitamente que, se Deus é por nós, nada ou ninguém pode ser contra nós, eram em sua maioria adeptos das teorias calvinistas”.



Eles estavam preocupados em agradar ao Senhor Jesus e não a humanos, pois não queriam comprometer a sua fé.

Segundo Rev. Augustus Nicodemus Lopes: “eles estavam convencidos de que, uma vez que o Senhor Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, não podiam ser derrotados de forma alguma se Deus estivesse ao lado deles”.

Os puritanos davam grande importância na vocação de cada pessoa, é neste ponto que a oikonomia da época começa a sofrer grandes transformações. Eles ensinavam a cada um, a necessidade de glorificar a Deus através da vocação secular, o sacerdócio universal ensinado pelos protestantes no início da Reforma, mesmo estudiosos marxistas do século XX, como o Professor Arcangius de Leningrado, dá crédito aos Puritanos por terem elevado a moral da classe trabalhadora da Inglaterra naquele período.

Ao invés de distribuir recursos aos mais necessitados, segundo Rev. Augustus Nicodemus Lopes: “...os Puritanos organizaram sociedades e sistemas, que pudessem ajudar estas pessoas a aprender uma vocação. Eles diziam às pessoas pobres que elas haviam sido criadas à imagem de Deus tanto quanto o Rei, e que o sangue de Jesus tinha sido derramado por todo tipo de pessoas, que eles haviam sido chamados para servir a Deus em suas vidas de acordo com o propósito de Deus”.

Isso alavancou a moral dos mais pobres, que começaram a descobrir seus talentos, através de treinamentos dados pelos puritanos e usaram o mesmo em favor dos lugares onde moravam. As mudanças começavam a acontecer, e os crimes caíram profundamente neste período, pois o fim principal era agradar a Deus, seja rico, ou seja, pobre.

Os puritanos aplicavam no dia a dia tudo que aprendiam dentro da igreja, diziam que para agradar a Deus, as profissões não tinham diferença, que em todo lugar estavam na presença de Deus, que tinham um chamado para mudar cada área da vida em algo santo para Deus. Por causa do teor das pregações, de igualdade perante o Criador, muitas igrejas fecharam a porta para os puritanos, foi quando homens simpatizantes da causa puritana auxiliaram financeiramente com os juros de seus negócios esses pregadores, eles acreditavam que pela pregação da Palavra a economia inglesa cresceria e aumentariam ainda mais suas rendas.

Outro ponto que os puritanos queriam reformar, além do coração das pessoas, era o intelecto, para que fossem bem educados e preparados para ouvir, e com o ouvir com o coração cheio de fervor a amor a Deus, mudariam a vida da comunidade em que viviam, o intelecto e o coração, que os puritanos chamavam de auto-controle, uma meditação contínua na Palavra de Deus.



Existia comunhão dentro da família, o que trouxe uma nova ternura e um refinamento aos sentimentos às afeições do lar, eles voltavam da igreja e conversavam a respeito do sermão com seus filhos, criaram assim o culto doméstico, o que muitos sociólogos chamaram de espiritualização da família. Os pais ensinavam seus filhos a ter uma profissão, para que os mesmos não se envolvessem em crimes, seja qual for o tipo de vocação. Esse fator gerou um senso de responsabilidade e diligencia na história de colonização dos Estados Unidos. Até a ascensão de muitos pobres, na época tinha influencia puritana, o Professor Jordan escreveu um livro importante: "Filantropia na Inglaterra - 1480/1660". Neste livro, ele mostra que os puritanos fizeram mais do que qualquer outro grupo para esvaziar as favelas, diminuir o crime e acabar com a pobreza.

Os pobres tiveram grande assistência puritana, pois acreditavam que a misericórdia de Deus devia ser demonstrada a todas as pessoas de forma prática. Eles não eram socialistas, pois defendiam o direito da propriedade privada, mas reestruturaram a economia, e lutaram contra os direitos coletivos, a ponto de pedir a queda de governos que fossem tiranos. Um fato importante é que esses puritanos calvinistas auxiliaram na revolução americana, com mais de dois terços da população envolvida.

Como o Rev. Augustus Nicodemus Lopes citou: “Jovens fortes, intelectuais, progressistas, atuais, caçavam, praticavam esportes, usavam roupas coloridas e faziam amor com suas mulheres, tudo isto para Glória de Deus, que os colocou em posição de liberdade. Não eram soberbos, melancólicos ou severos”.

Olhavam a vida através da lente ampla da Soberania de Deus em todas as áreas de sua vida. “Estavam no mundo, mas não eram do mundo”.

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[1] LOPES, Augustus Nicodemus. Pregação puritana (1). in: Jornal Os Puritanos Ano II - Número 3 (Junho 1993), pp. 7-9.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Meditação ao Receber os Elementos da Ceia



“Maravilhoso texto referente a meditação na Santa Ceia postado na devocional de Os Puritanos e extraído do livro A Prática da Piedade, Lewis Bayly, Editora PES, p. 342-345. A mente sendo exercitada em sua comunhão mística com Cristo e o valor de sua magnífica obra na Cruz.
Sinto falta do povo de Deus verdadeiramente “tocado” pelo poder transformador desta santa ordenança, de toda a preparação espiritual e de significado nela contido. O ápice de nossa comunhão, um meio de graça carinhosamente exercitado em favor dos santos.
Rogo ao Senhor que tenha piedade de nós e toque em nossos corações e aplique de forma eficaz e plena os frutos de incomensurável benção”.

Quando o ministro lhe trouxer e lhe oferecer o pão já abençoado e partido, apreste-se para recebê-lo, tome-o, coma-o, e então medite. Na meditação, pense nisto: Cristo vem até você e oferece e dá à sua fé o Seu corpo e o Seu sangue, com todos os méritos da Sua paixão e morte, para alimentar a sua alma para a vida eterna. Este glorioso fato se dá tão certamente como é certo que o ministro oferece e dá os sinais externos que alimentam o seu corpo para a vida temporal. O pão do Senhor é dado pelo ministro, mas o pão que é o Senhor é dado pelo próprio Cristo.

Quando você tomar o pão da mão do ministro para comê-lo,[i] eleve sua alma para apreender Cristo pela fé, e para aplicar os Seus méritos para curar as suas misérias. Abraçe-O gentilmente com a sua fé ao participar da ordenança, como uma vez Simeão O abraçou ainda bebê, nos panos que O envolviam.

Enquanto estiver comendo o pão, imagine Cristo pendurado da cruz, satisfazendo a justiça de Deus por seus pecados e sofrendo tormentos indescritíveis. Empenhe-se em apropriar-se tão verdadeiramente da graça espiritual como concretamente se apropria dos sinais elementares. Pois a verdade não está ausente do sinal, e Cristo não fala enganosamente quando diz: "Isto é o meu corpo". Ele se dá realmente a toda alma que O recebe espiritualmente pela fé. Sim, pois, assim como a nossa Ceia é a mesma que Cristo administrou, assim também o mesmo Cristo está verdadeiramente presente em Sua Ceia, não por algo como a transubstanciação papal, mas sim por uma participação sacramental,[ii] pela qual Ele alimenta verdadeiramente o participante digno para a vida eterna. Ele o faz, não descendo do céu e vindo a você, mas elevando você da terra até Ele, conforme a antiga expressão, Sursum corda,[iii] elevem seus corações. O que lembra também as palavras de Jesus Cristo: "Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias" (Mt. 24:28).

Quando você vir o vinho sendo trazido a você, separado do pão, lembre-se de que o sangue de Jesus Cristo também foi separado do Seu corpo na cruz, para a remissão dos seus pecados. Lembre-se igualmente de que o Seu sangue é o selo da nova aliança, que Deus fez para perdoar todos os pecados dos pecadores penitentes que creem nos méritos do Seu sangue derramado. Pois o vinho não é uma ordenança do sangue de Cristo contido em Suas veias, mas sim o Seu sangue derramado do Seu corpo na cruz, para a remissão dos pecados de todos os que nEle creem.

Quando você beber o vinho, medite e creia que, pelos méritos do sangue que Cristo derramou na cruz, todos os seus pecados foram tão verdadeiramente perdoados como agora é certo que você bebeu este vinho memorial e o recebeu pela fé. E, no instante em que o beber, fixe a sua meditação em Cristo, pendurado no madeiro, como se, à semelhança de Maria e João, O visse ali cravado e visse o Seu sangue correndo abaixo do Seu lado bendito, da horrível ferida feita pela lança em Seu puro e inocente coração. Imagine sua boca colada a Seu lado, para receber o precioso sangue antes de este cair na terra empoeirada.

E, todavia, beber de fato o sangue real com a sua boca não seria em nada eficaz como eficaz é este beber sacramental espiritual daquele sangue pela fé (Mt. 26:28). Pois qualquer dos soldados poderia ter bebido o sangue real derramado na cruz e continuar sendo um réprobo. Mas todo aquele que o beber espiritualmente, na ordenança, pela fé, certamente terá a remissão dos seus pecados e a vida eterna.[iv]
Assim como você sente o vinho memorial que bebeu aquecer o seu frio estômago, assim também faça empenho em exercer sua fé para sentir o Espírito Santo animar sua alma com a jubilosa certeza do perdão de todos os seus pecados, pelo mérito do sangue de Cristo. E com esse fim Deus dá a toda alma fiel, junto com o sangue memorial, o Espírito Santo para beber: "Todos temos bebido de um Espírito" (1 Co. 12: 13). Por isso, erga sua mente da contemplação de Cristo, morto na cruz, para considerá-Ia agora assentado na glória, à destra do Seu Pai, fazendo intercessão por você (Rm. 8:34; Hb. 7:25; 9:24), pela apresentação que faz a Seu Pai dos inapreciáveis méritos da morte que Ele sofreu por você uma vez por todas, para aplacar a Sua justiça pelos pecados que você comete diariamente contra Ele.

Depois de comer o pão e beber o vinho, trabalhe no sentido de que, conforme esses sinais memoriais se tornam a nutrição do seu corpo, e pelo calor da digestão se tornam um com a substância física do seu corpo, assim a operação da fé e do Espírito Santo torne você um com Cristo, e Cristo um com você, e assim você sinta a sua comunhão com Cristo confirmada e aumentada diariamente, cada vez mais (1 Co.10:17).[v] Considere então que, assim como é impossível separar o pão e o vinho digeridos junto ao sangue e à substância do seu corpo, assim também, e ainda mais, é impossível separar Cristo da sua alma, e sua alma de Cristo.

Por último, assim como o pão da ordenança, embora composto de muitos grãos, forma um só pão, assim também você deve lembrar que, embora todos os crentes sejam muitos, todos eles são, no entanto, apenas um corpo místico, do qual Cristo é a Cabeça. Por isso você deve amar todo cristão como a si mesmo, como membro do seu corpo.

Vimos, pois, os deveres a serem cumpridos quando do recebimento dos elementos da Ceia, processo ao qual damos o nome de meditação.

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Extraído do excelente livro A Prática da Piedade, Lewis Bayly, Editora PES, pp. 342-345
[i] Sacramentum requirit sacram mentem. {O sacramento requer mente sacra.}
[ii] Cristo lhe chama Seu corpo, não sinal do Seu corpo, porque este sacramento foi instituído não só para significar algo, mas também para comunicar as graças espirituais que ele representa, e pelos sinais levar nossas mentes às graças significadas. Vemos pronunciar-se dessa forma Eutimium, sobre Mat., capítulo 26, quando diz: "Non dixit dominus, Haec sunt signa corporis mei, sed hoc est cor pus meum. Oportet ergo, non ad naturam eorum que proposua sunt aspicere, sed ad ipsorum virtutem et gratiam. Non hoc cor pus quod videtis manducaturi estis, et bibituri illum sanguinem quem fusuri sunt qui me crucifigent. Sacramentum aliquid vobis commendo; spiritualiter intellectum vivificabit vos". {O Senhor não disse, estes são sinais do meu corpo, mas, isto é o meu corpo. Logo, convém não atentar para a natureza deles, cujo propósito é que os observemos, mas sim à sua virtude e à sua graça propriamente ditas. Não é o corpo, que vedes para o comerdes, nem o sangue derramado, que vedes para o beberdes, que me colocam na cruz. O sacramento que recomendo é o que é entendido espiritualmente; este vos vivificará.} -Aug. in Psal. xcvii, falando sobre a pessoa de Cristo. Os discípulos não comeram corporal e substancialmente Cristo na primeira celebração da Ceia; tampouco o fazemos nós na repetição da mesma Ceia.
[iii] Do latim que significa «levantar vossos corações "
[iv] Se a remissão dos pecados e a vida eterna fossem apropriados pelo ato de beber o sangue real, sem dúvida João e Maria teriam dado um jeito de bebê-lo; mas João atribui a virtude à fé em que o sangue foi derramado para remissão.
[v] Unus este panis communi notione sacramenti, non, auten necessário unus numero. (É um só pão pela experiência comum do sacramento, mas não necessariamente um em número

quinta-feira, 5 de abril de 2012

VARÃO E VAROA, ESTAMOS NO SÉCULO XXI

Segue abaixo um texto elaborado pelo Pastor, Teólogo e Doutor em Filosofia Jonas Madureira. Resolvi postalo por entender ser de extrema relevância ao nosso contexto e provocador ao cristão contemporâneo. Que Deus no ilumine e torne a nossa pregação tão relevante e digna como a Cristo Nosso Senhor.

Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
(Lucas 15.1)

É inegável que o cristianismo contemporâneo vive a crise da relevância. Os novos críticos do cristianismo não se cansam de dizer que o discurso dos cristãos cheira naftalina, é tão antiquado, fora de moda e irrelevante. Para ilustrar esse fato, lembro-me de que, há poucos dias, um colega da USP, sabendo que sou cristão, se aproximou de mim e, sem rodeios, perguntou-me: “Por que muitos evangélicos falam tão esquisito? Eles chamam uns aos outros de varão e varoa! Abusam dos arcaísmos! Usam expressões tão ultrapassadas que às vezes me sinto nos dias de Olavo Bilac!” Dureza, não?! Expliquei que muitas das versões bíblicas que as pessoas leem são muito antigas, e, por esse motivo, acabam trazendo o vocabulário delas para o dia a dia. “Que bizarro!”, disse meu colega. E incomodado com isso, perguntei: “Por que bizarro?”. Ele prontamente me respondeu: “Porque isso assusta qualquer um! É uma linguagem muito distante da realidade!”. Nessa hora, infelizmente, tive que concordar com ele. Nossa linguagem, às vezes, é tão descontextualizada que, em vez de atrair, assusta os publicanos e pecadores de nossos dias.

O que acho mais interessante no texto de Lucas 15 é o fato de que os publicanos e pecadores não se aproximaram de Jesus para pedir um milagre, uma bênção. Pelo contrário, se aproximaram dele só para ouvi-lo. Isso aconteceu porque a pregação de Jesus era empolgante, o Mestre era verdadeiramente relevante. Veja a bela imagem que Lucas nos oferece: o Filho de Deus, sentado à mesa com publicanos e pecadores, completamente atraídos pelo seu discurso. Ou seja, Lucas mostrou que Jesus era interessante não apenas por causa dos milagres que fazia, mas principalmente por causa de seu pensamento, de sua capacidade de ler o coração dos homens e de expor os desígnios de Deus, com ousadia, sabedoria e relevância.

Ouvindo algumas pregações aqui e acolá, em canais de TV e em igrejas, percebo que muitos dos discursos e pregações de nossos dias estão muito distantes de ser comparados às pregações empolgantes de Jesus. Acredito que uma das razões seja a nossa incapacidade de ler nosso tempo, agravada pela pobreza de nossa leitura dos desígnios de Deus, expressos nas Escrituras. Quando digo “ler nosso tempo”, digo “ler as pessoas de nossos dias”. Jesus entendia o homem de seu tempo como ninguém. Ele compreendia as questões que o homem de seu tempo fazia e, por isso, respondia de forma relevante aos publicanos e pecadores de seu tempo.

Em contrapartida, nossa leitura do varão hodierno — ops! do homem de hoje! — é vergonhosa. Não entendemos seus pensamentos, não entendemos suas questões. Às vezes, tenho a impressão de que a maioria de nós está falando para homens do século XIX, e não só com uma linguagem oitocentista, mas — o que é pior ainda — usando uma lógica e um tipo de reflexão e postura intelectual que é típico do universo espiritual oitocentista.

A verdade é que alguns sermões de hoje se tornam irrelevantes porque apenas respondem às perguntas que o homem do século XIX fazia. São sermões tão distantes do século XXI, que dão sono! Cá para nós, às vezes me pergunto se isso acontece por causa do delay de publicações das obras teológicas oitocentistas, que são publicadas hoje em dia como “grandes lançamentos do ano”. Sinceramente, não sei. O que sei é que, se queremos proclamar o reino de Deus para o nosso tempo, temos de nos livrar de nossas lentes oitocentistas. Precisamos ler o homem de nossos dias, com lentes apropriadas para o século XXI.

O homem de hoje é um homem sem transcendente, ou melhor, um homem deslumbrado com o imanente, que passa a ser tomado como se fosse transcendente. Em outras palavras, alguém que trocou a adoração a Deus pela veneração ao carro do ano, ao último modelo de celular, de notebook, de TV e por aí vai. Por isso, as megaigrejas estão tão cheias. E garanto que não é pela relevância do discurso, mas pela exploração da angústia do homem moderno. Este vai à igreja não mais para simplesmente adorar, mas para clamar a Deus por um carro novo, uma casa maior, mais dinheiro, mais sucesso, mais poder. A tara por essas bênçãos materiais mostra o quanto somos niilistas, vazios, sem um sentido ulterior para vida, que seja superior a tudo o que está preso ao tempo e ao espaço.

Não precisamos de sermões que alimentem nossa angústia niilista. Precisamos de sermões que nos conscientizem de nossa real situação. Sermões que revelem as novas faces de nossas depravações e desesperos. Sermões que sejam resultado de uma exegese bíblica cuidadosa e contextualizada, e, ao mesmo tempo, conscientes de que nossa inteligência e compreensão devem ser submetidas à luz do Espírito, o único que nos permite ver o Jesus supracultural, supratemporal, preexistente, Filho de Deus, Senhor do tempo, da história, da terra e do céu. Sermões que nos sirvam como espelhos para mostrar a face sofrida e angustiada de nosso coração, tão longe da busca pelo transcendente e tão entregue à busca exacerbada por bens transitórios. Só assim haverá conversão genuína, adoração verdadeira, pregação relevante. Só assim publicanos e pecadores de nosso tempo deixarão de se assustar com esse nosso esquisito jeito oitocentista de ser, e se aproximarão de nós para conhecer o Jesus do século XXI, que, paradoxalmente, em nada deve ser menos atraente do que o Jesus do século I.

domingo, 4 de março de 2012

O Cristão Protestante

O cristão protestante é o que verdadeiramente tem como pressuposto e construto norteador de seu caráter “somente a Cristo, somente a fé, somente a Graça, somente as Escrituras e somente a Glória de Deus.
Em seus arraiais, ecoam a necessidade irrevogável de altos padrões morais no entorno de toda a sociedade e o constante protesto contra o erro e o firme desejo de encontrar com o seu noivo como impoluta e imaculada noiva, quando este retornar e a tomar em seus braços.
O protestantismo é um “sistema de vida”, uma personalidade que transpira biblicamente todas as relações humanas e não pactua e nem encobre pastores ladrões, pedófilos, místicos, mentirosos, heréticos, homossexuais, adúlteros, idólatras, amantes da injustiça e da impiedade, movimentos evangélicos pós-modernos, como a Teologia da Prosperidade e outras teologias contemporâneas.
Tem em seu íntimo, a vivida convicção e determinação da incompatibilidade entre a igreja e o mundo, não compactua e nem faz concessões com as inovações, pois seu culto é cristocêntrico e jamais antropocêntrico, sua pregação é expositiva, a Soberania de Deus é o centro de sua doutrina, seus usos e costumes têm como propósito a Honra e a Glória do Senhor Jesus Cristo.
Entre os protestantes, pecado é pecado e jamais uma “disposição mental” capaz de ser revogada, por confissões positivas ou mesmo sufocada por técnicas de auto-ajuda e psicanálise. Somente o arrependimento, a confissão de culpa e a humilhação diante do Senhor e a mudança de vida, proporcionará um “nascer de novo” e a plena convicção de segurança em Cristo Jesus o Senhor. A condição é a de servo (escravo), submisso e contrito pela miserabilidade e depravação do pecado em suas vidas, porém justificado pela fé conferida aos santos, sim santos, pois a nossa santificação e justificação estão seladas pelo poder do Espírito Santo e foram garantidas no sacrifício vicário de Nosso Senhor Jesus Cristo, santidade sem a qual ninguém verá a Deus.

O hedonismo e a secularização do culto cristão.

Refletindo sobre um dos sermões do Rev. José Dutra, o qual tratava do prazer de se estar na casa do Senhor e de como o povo de Deus tem se distanciado desse estado de espírito. Após a sua preleção foi-me possível refletir sobre como o materialismo e o consumismo tem invadido os nossos arraiais e com eles o hedonismo (a síndrome da busca pelo prazer apenas pelo prazer) e pude concluir que tais nos distanciam da santidade e do real propósito da vida em Cristo Jesus.
A busca pelo prazer nos leva a lamuriar pelo tempo de duração do sermão, pelo tipo de assento, pelo calor, pelo pouco tempo outorgado ao período dos cânticos, o rigor dos usos e costumes, e etc. Preocupa-me por demais tais sintomas, porque a tendência natural de tal postura hedonista nos conduzirá a perda do referencial do viver e dos valores cristãos, redirecionando-nos para o que é confortante, agradável e sensorialmente aprazível, sendo de valor apenas aquilo que me produzir prazer e bem estar, não importando os meios e será exatamente neste momento que o mundo e os seus pressupostos ilícitos e nefastos invadirão a igreja do Senhor, onde as verdades bíblicas, a piedade e a moral serão substituídas pelo eu e pelas benesses do “evangelicalismo”.
Esta forma de pensar tem norteado a igreja contemporânea, tanto pela porta de entrada do show business com suas luzes e o glamour, como pela relativização da moral e da falta de disciplina eclesiástica.
O certo e o errado foram banalizados pelo conceito de funcionalidade e entretenimento, a essência do viver em Cristo e a responsabilidade com a verdade exegética, independente de quem possa ou não agradar, está sendo substituída pelos resultados e os nossos líderes tem sido contaminados por esta praga virulenta em favor da métrica melódica e de tantos outros pueris e sórdidos argumentos “pós-modernos”, que em sua “essência” só contemplam ao ego e ao erro e tudo isso ao caríssimo preço de violar o princípio reformado do ensino da sã doutrina e, portanto, tornando-se omissos com o rigor exigido pelas Sagradas Escrituras no que tange a disciplina e a simplicidade.
Tudo em nossos cultos tem vislumbrado o bem estar e aqui gostaria de citar o Macthur: “Aliás, uma das poucas coisas que é considerada como inadequada (o grifo é meu) é a pregação clara e poderosa...”.
Insisto sempre em frisar, não por clichê, mas por pura convicção, a necessidade de retomarmos as Sagradas Escrituras como referencial de fé e conduta: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra (2 Tm 3.16-17).
Sigamos as orientações do apóstolo Paulo, no que tange ao proceder de nosso compromisso com o rigor e o zelo do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e, sim, no poder de Deus (1 Co 2.1-5).
E aos Tessalonicenses: "Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo; pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração. A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha. Também jamais andamos buscando gloria de homens, nem de vós, nem de outros”. (1 Ts 2.3-6).
Rogo ao Senhor, que disponha os nossos corações a verdadeira adoração em espírito e em verdade, pois é desta que Ele se agrada. Que em nossos corações haja o devido temor e tremor, a ponto de não considerarmos dentre tantas outras aberrações, chamar o Senhor de “você” em nossos cânticos devocionais, conforme já doravante citado, em favor da métrica melódica, esquecendo que a música é que deve estar a serviço da sã doutrina e não o inverso. Que a santa casa do Senhor não se torne o nosso clube dominical onde buscamos a satisfação de nosso “eu” em detrimento da verdade e da santidade sem a qual ninguém verá o Senhor, onde a contrição não seja substituída pela relativização do pecado e que as nossas consciências estejam sempre cativas a vontade revelada de nosso Deus em suas Sagradas Escrituras e nunca aos interesses hedonistas e pragmáticos de nossos egos.
Agora me sinto tentado a parafrasear Moody e disser: “a igreja está no mundo, mas Deus ajude a igreja se o mundo entrar dentro dela”.
Sigamos e prossigamos conforme a máxima adotada pela revista “Fé para hoje” da editora Fiel: “comprometidos com a fé que foi entregue aos santos”.
Com amor e em Cristo Nosso Senhor e Salvador.

Rev. Alexsandro Sant’Anna.
http://alexsandrosantanna.blogspot.com

Citando D.L. Moody: "o lugar do navio é dentro do mar, mas Deus ajude o navio se o mar entrar dentro dele".

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CONVERSA COM UM LIBERAL

Recentemente, deparei-me com os tão citados argumentos liberais, por deverás expostos, tanto em sala de aula, palestras e livros pelo professor Rev. Augustus Nicodemus.
Durante uma conversa com um adepto deste tipo de pensamento, pude observar em seus olhos, enquanto eu fazia a minha exposição, aquela implícita expressão: “pobre e ignorante fundamentalista”. Este por sua vez, exaltava-se em seus argumentos, contra-argumentava alegando que ignorar as evidências científicas seria dar atenção a “coisas de pastor” (ele não sabia que eu sou pastor).
Quando adentramos a questão dos milagres, justificou a sua posição alegando que estas ocorrências as quais nominamos de “milagres” nada mais foram do que “curas psíquicas” (estas aspas são minhas), pois Jesus assim proferira: “... a tua fé te curou”. É claro que para cada um dos milagres expostos havia uma pseudo justificativa científica, porém, a que mais me intrigou e motivou a escrever este artigo foi a de que Jesus podia não só “ver toda a estrutura molecular das coisas como manipulá-las” e, portanto, a justificativa para tais eventos. Neste momento quem passou a demonstrar a expressão fundamentalista no rosto fui eu. Nossa conversa foi interrompida, porém em minha mente, florescia o questionamento quanto a este tipo de reducionismo seletivista. Onde e com que autoridade decidimos o que é ou não milagre? Qual o pressuposto que tornaria a opinião do leitor inerrante? Se todos estes questionamentos e incoerências ainda não bastassem, em conversa com um colega sobre tais vislumbres, podemos enxergar a mística ficcionista de tais argumentos:
 Assim para as questões de ordem psíquicas, Jesus seria um destes modernos gurus da auto-ajuda e para as questões físico-químicas atuaria como um Neo (Matrix) capaz de enxergar a estrutura extra-sensível em seus códigos originais (claro que ao invés de códigos numéricos, estes seriam em aramaico) e assim atuar sobre todas as coisas.

Com certeza é preciso possuir mais fé para crer nestes desatinos pseudocientíficos do que nas Escrituras. Depois nós é que somos os fundamentalistas. Segue abaixo um texto adaptado de uma matéria extraída de um exemplar do jornal Brasil Presbiteriano da década de 1960, o qual entendo ser de extrema relevância para o contexto em questão.

PORQUE NÃO SOU LIBERAL...
(Uma Declaração Necessária aos nossos Dias)
Pb. Josué de Oliveira
... porque para ser liberal eu teria de admitir que pecado é um problema de consciência. Se a minha consciência estiver cauterizada eu já não terei uma noção exata do pecado e da pureza;
... porque o meu propósito e o meu compromisso com Deus é continuar fiel aos ensinos de Cristo e para ser liberal teria de renunciar o voto que fiz a Deus por ocasião da minha profissão de fé e de minha investidura ao presbiterato;
... porque para ser liberal eu terei que aceitar a teoria de que os fins justificam os meios e isto não é compatível com a honestidade cristã, muito menos com a Palavra de Deus;
... porque para ser liberal eu teria de coexistir com as trevas e Cristo pensa de modo diferente e ordena aos seus discípulos andarem na luz;
... porque o progresso espiritual entre os liberais é nulo;
... porque para ser liberal serei obrigado a amar o meu próximo apenas em função de uma razão romana - ecumênica;
... porque para ser liberal a verdade não terá para mim nenhum sentido e Cristo declara que ficarão de fora todos os que praticam a mentira. Eu desejo morar eternamente na mansão celestial;
... porque para ser liberal teria que colocar em evidência, em projeção e em destaque a minha pessoa e não a de Cristo;
... porque para ser liberal teria de fazer concessões em troca de apoio aos meus pontos de vista e eu sei que as concessões representam um perigo constante para a fé;
... porque para ser liberal eu teria de aceitar a idéia de oferecer aos meus filhos não uma Igreja Cristã, mas uma simples, caricatura da verdadeira Igreja de Cristo;
... porque para ser liberal terei de admitir que liberdade e libertinagem são a mesma coisa;
... porque para ser liberal terei que receber um rótulo de cristão e não o batismo real do Espírito Santo;
... porque para ser liberal eu precisaria palmilhar a estrada larga que conduz à perdição, mas prefiro a estrada estreita com todas as suas dificuldades, porque é essa que nos dará acesso às mansões celestiais onde viveremos na presença de Deus eternamente;
... porque para ser liberal terei de renunciar ao alto privilégio de pertencer ao rebanho de Cristo, porque ele mesmo declara: "... porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca."
Com amor e em Cristo Nosso Senhor e Salvador.

Alexsandro Sant’Anna.
http://alexsandrosantanna.blogspot.com