quarta-feira, 18 de abril de 2012

OS PURITANOS E A SOBERANIA DE DEUS - Estavam no mundo, mas não eram do mundo



“Excelente e apropriado texto de Carlos Reghine. Decidi postá-lo por entender a necessidade que o cristão de hoje tem de exemplos práticos. Em minha compreensão os puritanos foram exatamente isso, o cristianismo pratico em sua excelência “por toda” a extensão da vida cotidiana, onde o vislumbre da soberania de Deus e a busca pela sua glória e a paixão pela pureza, estavam permeados e permeando todo o viver do povo de Deus”.

Depois da Reforma Protestante na Escócia e na Inglaterra, houve um período de esfriamento e baixa no modo de vida cristão da época, o que levou alguns cristãos a não mais permitir acréscimos de tradição humana nos cultos a Deus, alegando a quebra do segundo mandamento, reclamaram que a tradição dificultava a clareza do Evangelho e impedia o poder de Deus sobre a Igreja, esses cristãos da Escócia e Inglaterra ficaram conhecidos como Os Puritanos, palavra que vem do inglês e significa purificar.

Eles queriam purificar o culto a Deus, através da Palavra, queriam purificar também o governo da Igreja, a vida da família, o comércio, os negócios e posteriormente até o governo civil. SegundoRev. Augustus Nicodemus Lopes[1]: “Eles queriam reformar as escolas e as universidades à luz da Palavra de Deus. Por isso começaram a orar e a pregar para que toda a terra, em todos os aspectos do país, fosse reformada pela Palavra”. Tinham uma consciência de que a Palavra de Deus juntamente com o Espírito traz a vitória, a vida e a reforma. Sofreram grandes perseguições, inclusive do governo inglês que temia que a Igreja tivesse um poder político grande.

A Soberania de Deus, ênfase da doutrina utilizada pelos calvinistas, era um dos pontos que prevaleciam na vida de um puritano, eles eram ativos e corajosos, resistindo às perseguições, sentiam uma satisfação interior em saber que estavam salvos, que tinham uma comunhão direta com Deus, e essas pessoas eram dentre outras: donas de casa, artesãos e comerciantes, mas que eram fortes, pois sentiam a presença do Espírito de Deus, tinham a convicção de que eram eleitos de Deus, através de Cristo, o que deu-lhes autoconfiança numa época em que havia tanta incerteza econômica e adversidade política. Segundo Rev. Augusto Nicodemus Lopes comenta sobre o Prof. Hill: "foi essa coragem e confiança que capacitavam os Puritanos a lutar por meio de armas espirituais, econômicas ou militares, para criar um mundo novo, digno daquele Deus que os havia abençoado de forma tão marcante". O Dr. Perry Miller da Universidade de Harvard, que é o grande historiador dos Puritanos nos E.E.U.U., certa vez disse: “É impossível você imaginar um Puritano sem esperança; eles criam na Soberania de Deus, e isso os fazia agir em face de qualquer dificuldade. Eles sabiam perfeitamente que, se Deus é por nós, nada ou ninguém pode ser contra nós, eram em sua maioria adeptos das teorias calvinistas”.



Eles estavam preocupados em agradar ao Senhor Jesus e não a humanos, pois não queriam comprometer a sua fé.

Segundo Rev. Augustus Nicodemus Lopes: “eles estavam convencidos de que, uma vez que o Senhor Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, não podiam ser derrotados de forma alguma se Deus estivesse ao lado deles”.

Os puritanos davam grande importância na vocação de cada pessoa, é neste ponto que a oikonomia da época começa a sofrer grandes transformações. Eles ensinavam a cada um, a necessidade de glorificar a Deus através da vocação secular, o sacerdócio universal ensinado pelos protestantes no início da Reforma, mesmo estudiosos marxistas do século XX, como o Professor Arcangius de Leningrado, dá crédito aos Puritanos por terem elevado a moral da classe trabalhadora da Inglaterra naquele período.

Ao invés de distribuir recursos aos mais necessitados, segundo Rev. Augustus Nicodemus Lopes: “...os Puritanos organizaram sociedades e sistemas, que pudessem ajudar estas pessoas a aprender uma vocação. Eles diziam às pessoas pobres que elas haviam sido criadas à imagem de Deus tanto quanto o Rei, e que o sangue de Jesus tinha sido derramado por todo tipo de pessoas, que eles haviam sido chamados para servir a Deus em suas vidas de acordo com o propósito de Deus”.

Isso alavancou a moral dos mais pobres, que começaram a descobrir seus talentos, através de treinamentos dados pelos puritanos e usaram o mesmo em favor dos lugares onde moravam. As mudanças começavam a acontecer, e os crimes caíram profundamente neste período, pois o fim principal era agradar a Deus, seja rico, ou seja, pobre.

Os puritanos aplicavam no dia a dia tudo que aprendiam dentro da igreja, diziam que para agradar a Deus, as profissões não tinham diferença, que em todo lugar estavam na presença de Deus, que tinham um chamado para mudar cada área da vida em algo santo para Deus. Por causa do teor das pregações, de igualdade perante o Criador, muitas igrejas fecharam a porta para os puritanos, foi quando homens simpatizantes da causa puritana auxiliaram financeiramente com os juros de seus negócios esses pregadores, eles acreditavam que pela pregação da Palavra a economia inglesa cresceria e aumentariam ainda mais suas rendas.

Outro ponto que os puritanos queriam reformar, além do coração das pessoas, era o intelecto, para que fossem bem educados e preparados para ouvir, e com o ouvir com o coração cheio de fervor a amor a Deus, mudariam a vida da comunidade em que viviam, o intelecto e o coração, que os puritanos chamavam de auto-controle, uma meditação contínua na Palavra de Deus.



Existia comunhão dentro da família, o que trouxe uma nova ternura e um refinamento aos sentimentos às afeições do lar, eles voltavam da igreja e conversavam a respeito do sermão com seus filhos, criaram assim o culto doméstico, o que muitos sociólogos chamaram de espiritualização da família. Os pais ensinavam seus filhos a ter uma profissão, para que os mesmos não se envolvessem em crimes, seja qual for o tipo de vocação. Esse fator gerou um senso de responsabilidade e diligencia na história de colonização dos Estados Unidos. Até a ascensão de muitos pobres, na época tinha influencia puritana, o Professor Jordan escreveu um livro importante: "Filantropia na Inglaterra - 1480/1660". Neste livro, ele mostra que os puritanos fizeram mais do que qualquer outro grupo para esvaziar as favelas, diminuir o crime e acabar com a pobreza.

Os pobres tiveram grande assistência puritana, pois acreditavam que a misericórdia de Deus devia ser demonstrada a todas as pessoas de forma prática. Eles não eram socialistas, pois defendiam o direito da propriedade privada, mas reestruturaram a economia, e lutaram contra os direitos coletivos, a ponto de pedir a queda de governos que fossem tiranos. Um fato importante é que esses puritanos calvinistas auxiliaram na revolução americana, com mais de dois terços da população envolvida.

Como o Rev. Augustus Nicodemus Lopes citou: “Jovens fortes, intelectuais, progressistas, atuais, caçavam, praticavam esportes, usavam roupas coloridas e faziam amor com suas mulheres, tudo isto para Glória de Deus, que os colocou em posição de liberdade. Não eram soberbos, melancólicos ou severos”.

Olhavam a vida através da lente ampla da Soberania de Deus em todas as áreas de sua vida. “Estavam no mundo, mas não eram do mundo”.

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[1] LOPES, Augustus Nicodemus. Pregação puritana (1). in: Jornal Os Puritanos Ano II - Número 3 (Junho 1993), pp. 7-9.

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