“Segue um dos textos mais belos referente a biografias que pude ler neste ano. Confesso que me comovi ao ponto de ver-me em lágrimas.
Nossas famílias são jóias raríssimas a nós presenteadas pelo Pai, delas derivam nossas forças e conforto.
Amem suas famílias e zelem por benção tão inefável. Que Deus nos ajude. Amém”.
Por James I. Good
Uma das figuras femininas mais importantes da Reforma Protestante do Século XVI foi, sem dúvida, Katharina Von Bora. Não que ela tenha praticado qualquer grande ato heróico, se envolvido pessoalmente em grandes controvérsias ou sido martirizada em virtude da sua fé. No dizer de um de seus biógrafos: “ela não escreveu nenhum livro nem jamais pregou um único sermão, mas seu inestimável auxílio possibilitou que seu marido fizesse tudo isso como poucos na história da igreja.” Estamos falando da Sra. Lutero.
Katharina nasceu em 1499, filha de um nobre alemão que passava por dificuldades financeiras. Aos 3 anos de idade, perdeu sua mãe, e seu pai a levou para estudar na escola do convento Beneditino, onde vivia sua tia Madalena Von Bora. Aos 9 anos, entrou para o convento propriamente dito, tornando-se freira aos 16 anos de idade.
Quando Lutero fixou as suas famosas 95 teses nos portões da Capela de Wittemberg, Katharina estava com 18 anos de idade. Entretanto, ela e outras freiras do convento ouviram falar do ensino bíblico de Lutero, e crendo no que ele pregava, desejaram abandonar a clausura. Escreveram a seus pais, mas eles não tomaram nenhuma atitude no sentido de libertá-las. Decidiram então escrever a Lutero, tendo a carta sido redigida pela própria Katharina. Quando o reformador tomou conhecimento do fato, encorajou um amigo negociante a ajudá-las a escapar. Esse homem, Leonardo Koppe, ia freqüentemente ao convento, levando alimentos e todo tipo de mantimentos para abastecer o mosteiro, e uma noite em 1523, ajudou-as a fugir, transportando as 12 noviças em um barril de peixes! Muitas retornaram às suas famílias. Lutero procurou auxiliar a todas, ajudando-as a encontrar moradias, maridos e empregos. Dois anos após a fuga, todas haviam seguido seu destino, exceto Katharina, que morou por um curto período de tempo na casa do pintor Lucas Cranach, autor de seu famoso retrato.
Em 1524, com a aprovação e recomendação de Lutero, Katharina foi cortejada por um dos alunos de Wittemberg, mas seu pai se opôs ao casamento. Neste mesmo ano, Lutero arrumou-lhe um novo pretendente, o Pastor Glatz, mas ela recusou-se a desposá-lo. Ela costumava dizer: “Só me casarei com o Dr. Lutero ou com alguém muito parecido com ele”. Lutero ria ao ouvir isso, pois apesar de, já àquela altura, condenar o celibato, não tinha intenção de casar-se: “nunca farão com que eu me case!”, afirmou ele. Alguns garantem que ele chegou a interessar-se por outra ex-freira, Ave Von Schonfeld, mas o relacionamento parece não ter prosperado.
Porém, gradualmente, tanto pela convivência, como por insistência dos seus amigos e seu pai, Lutero acabou propondo casamento à Katharina. Eles ficaram noivos em 13 de junho de 1525 e casaram no dia 25 de junho daquele mesmo ano, ou seja, doze dias depois! A decisão parece ter causado surpresa, pois o próprio Melanchton, escrevendo a um amigo, declarou: “Inesperadamente, Lutero desposou Bora sem querer mencionar seus planos ou consultar seus amigos”. Muitos foram contra o casamento, pelos motivos mais variados. Primeiramente porque, àquela altura, ainda não se admitia que os religiosos contraíssem matrimônio: tratava-se de um escândalo! Segundo, pela grande luta que o reformador vinha travando conta Roma: na condição de herege e proscrito, sua vida estava em constante perigo. Outra razão era a diferença de idade: quando casaram, Lutero estava com 42 anos e Katharina com 26! Ela também sofreu difamações pela união com o reformador, mas, felizmente, o casamento ocorreu e eles viveram felizes por cerca de 21 anos, até a morte do reformador. São curiosos alguns escritos de Lutero sobre esse período inicial de sua vida matrimonial. Escrevendo a um amigo ele declarou: “Existem algumas coisas com as quais precisamos nos acostumar no primeiro ano de casamento; o sujeito acorda de manhã e encontra um par de tranças postiças no travesseiro, onde antes não havia nada!” Entretanto, após um ano de casado, escreveu: “Minha Kathe é, em tudo, tão dedicada e encantadora que eu não trocaria minha pobreza pelas maiores riquezas do mundo”. E mais tarde: “Não há na terra um laço tão doce, nem uma separação mais amarga como a que ocorre num bom casamento”. Finalmente, é bem conhecida sua declaração: “Não há relação mais bela, mais amável e mais desejável, nem comunhão e companhia mais agradável do que a de marido e mulher num casamento feliz”.
O príncipe Frederico havia dado de presente a Lutero o prédio do mosteiro agostiniano em Wittemberg, e foi para lá que a família se mudou em 1525. Katharina reformou o mosteiro e o administrou, o que veio a permitir que Lutero gozasse de relativa paz e ordem em sua vida privada. Ela dirigia e administrava as finanças da família, para que ele pudesse dedicar-se às tarefas que essencialmente lhe competiam: escrever, ensinar e pregar. Ela foi uma esposa dedicada e diligente, a quem Lutero freqüentemente se referia como “Kathe, minha patroa (no inglês, my lord)”. Eles tiveram 6 filhos, dos quais 4 sobreviveram até à idade adulta. Além disso, cuidavam de uma parenta de Katharina e, em 1529, com a morte da irmã do reformador, mais 6 crianças – agora órfãs – se juntaram à família. Além dos familiares e de um cachorro de estimação, era comum haver mais de 30 pessoas no mosteiro, entre hóspedes, viajantes em trânsito e estudantes (eles costumavam receber estudantes, que pagavam pelos seus estudos, ajudando assim a equilibrar o orçamento doméstico). Desse modo, sua rotina diária era bastante atarefada: ela tinha uma horta, um orquidário, confeccionava material para pescaria, e acabaram, posteriormente, adquirindo uma pequena fazenda onde criavam gado, galinhas e fabricavam cerveja caseira. Ela também gostava de ler e de bordar. Lutero costumava chamá-la de “a estrela da manhã de Wittemberg”, já que diariamente levantava às 4 horas da madrugada para dar conta de suas muitas responsabilidades. Com muita freqüência, o reformador caía enfermo, e Katharina cuidava dele não simplesmente como esposa, mas quase como enfermeira, devido aos grandes conhecimentos médicos que possuía.
Entretanto, sua vida não era somente dedicada a coisas materiais. Seu marido a encorajava em seus estudos bíblicos devocionais e sempre sugeria algumas passagens particulares para que memorizasse. Quando ele se encontrava deprimido, era a sua vez de ajudá-lo: sentava-se ao seu lado e lia a Bíblia para ele, edificando o seu coração. Conta-se que, certa vez, Lutero estava bastante deprimido. Não se alimentava e passava os dias trancafiado em seu quarto. Estava cheio de dúvidas sobre se o que fazia era ou não da vontade de Deus. Katharina vestiu-se de preto e entrou subitamente no aposento. Lutero tomou grande susto, pensando que alguém tinha morrido. Katharina respondeu: “Ao que parece, Deus morreu!” A reação de Lutero foi imediata: levantou-se e saiu do quarto, agradecendo à esposa por fazê-lo retornar à vida.
Em termos de recreação, Lutero gostava de participar de jogos ao ar livre com a família, e também apreciava os jogos de mesa, como o xadrez, além de jardinagem e música. Ele e Katharina eram pais diligentes, “disciplinando seus filhos, em amor”. Seu lar era famoso pela vitalidade e felicidade ali reinantes. Dessa forma, a família do reformador tornou-se um modelo para as famílias cristãs alemãs por muitos anos. Lutero considerava o casamento como a melhor escola para moldar o caráter e a vida familiar um método excelente e apropriado para treinar e desenvolver as virtudes cristãs da firmeza, paciência, bondade e humildade.
Lutero faleceu em 1546, e Katharina ainda viveu por mais 6 anos. Ela chegou a ver seus filhos atingirem a idade adulta, alcançando posições de influência na sociedade, exceto aqueles que morreram na infância, causando grande sofrimento as pais: sua primeira filha (Elizabeth) que morreu aos 8 meses de idade, e a segunda filha (Madalena) que faleceu aos 13 anos. Para termos uma idéia desses sofrimentos, segue um breve relato. Quando Madalena adoeceu gravemente, Lutero orou: “Senhor, eu amo muito a minha filha, mas seja feita a tua vontade”. Ajoelhando-se junto à cabeceira de sua cama, falou: “Madalena, minha menina, eu sei que você gostaria de permanecer aqui com seu pai, e também sei que gostaria de ir encontrar-se com o seu Pai no céu. Ela, sorrindo, respondeu: “Sim, papai, como Deus quiser”. Finalmente, depois de alguns dias, ela faleceu em seus braços, e no seu sepultamento, Lutero disse chorando: “Minha querida e pequena Lena, como você está feliz! Você ressurgirá e brilhará como o Sol e as estrelas... É uma cosa esquisita – eu saber que ela está feliz e em paz, e ainda assim, me sentir tão triste!”
Quanto aos outros filhos, o mais velho (Hans) estudou Direito e tornou-se conselheiro da corte. O segundo (Martin), estudou Teologia. O terceiro (Paul), tornou-se um médico famoso, e a terceira filha (Margareth) casou-se com um rico prussiano. A título de curiosidade: os descendentes de Lutero que ainda vivem, descendem de sua filha Margareth, dentre eles, o ex-presidente da Alemanha, Paul Von Hindenburg.
No mesmo ano da morte de Lutero (1546), Katharina deixou Wittemberg e fugiu para Dessau, devido à guerra smalkaldiana e, em 1552, viajou para Torgau, fugindo de uma peste que grassara em Wittemberg. Ela morreu em 20 de dezembro de 1552 na cidade de Torgau.
Encerro esse breve relato sobre a vida de Katharina citando o último testemunho do seu esposo. Escrevendo, certa vez, a um amigo, ele disse: “Minha querida Kate me mantém jovem, e em boa forma também... Sem ela, eu ficaria totalmente perdido. Ela aceita de bom grado minhas viagens e quando volto, está sempre me aguardando com alegria. Cuida de mim nas minhas depressões e suporta meus acessos de cólera. Ela me ajuda em meu trabalho, e acima de tudo, ama a Cristo. Depois Dele, ela é o maior presente que Deus já me deu nesta vida. Se algum dia vierem a escrever a historia de tudo o que já tem acontecido (a Reforma), espero que o nome dela apareça junto ao meu. Eu oro por isso...”.
Ao tomar conhecimento dessa declaração, Katharina respondeu: “Tudo o que tenho feito se resume a simplesmente duas coisas: ser esposa e mãe, e tenho certeza que uma das mais felizes de toda a Alemanha!”.
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Texto extraído do livro Grandes Mulheres da Reforma, de James I. Good (editada por Lays Anglada) – Knox Publicações.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
quarta-feira, 18 de abril de 2012
OS PURITANOS E A SOBERANIA DE DEUS - Estavam no mundo, mas não eram do mundo
“Excelente e apropriado texto de Carlos Reghine. Decidi postá-lo por entender a necessidade que o cristão de hoje tem de exemplos práticos. Em minha compreensão os puritanos foram exatamente isso, o cristianismo pratico em sua excelência “por toda” a extensão da vida cotidiana, onde o vislumbre da soberania de Deus e a busca pela sua glória e a paixão pela pureza, estavam permeados e permeando todo o viver do povo de Deus”.
Depois da Reforma Protestante na Escócia e na Inglaterra, houve um período de esfriamento e baixa no modo de vida cristão da época, o que levou alguns cristãos a não mais permitir acréscimos de tradição humana nos cultos a Deus, alegando a quebra do segundo mandamento, reclamaram que a tradição dificultava a clareza do Evangelho e impedia o poder de Deus sobre a Igreja, esses cristãos da Escócia e Inglaterra ficaram conhecidos como Os Puritanos, palavra que vem do inglês e significa purificar.
Eles queriam purificar o culto a Deus, através da Palavra, queriam purificar também o governo da Igreja, a vida da família, o comércio, os negócios e posteriormente até o governo civil. SegundoRev. Augustus Nicodemus Lopes[1]: “Eles queriam reformar as escolas e as universidades à luz da Palavra de Deus. Por isso começaram a orar e a pregar para que toda a terra, em todos os aspectos do país, fosse reformada pela Palavra”. Tinham uma consciência de que a Palavra de Deus juntamente com o Espírito traz a vitória, a vida e a reforma. Sofreram grandes perseguições, inclusive do governo inglês que temia que a Igreja tivesse um poder político grande.
A Soberania de Deus, ênfase da doutrina utilizada pelos calvinistas, era um dos pontos que prevaleciam na vida de um puritano, eles eram ativos e corajosos, resistindo às perseguições, sentiam uma satisfação interior em saber que estavam salvos, que tinham uma comunhão direta com Deus, e essas pessoas eram dentre outras: donas de casa, artesãos e comerciantes, mas que eram fortes, pois sentiam a presença do Espírito de Deus, tinham a convicção de que eram eleitos de Deus, através de Cristo, o que deu-lhes autoconfiança numa época em que havia tanta incerteza econômica e adversidade política. Segundo Rev. Augusto Nicodemus Lopes comenta sobre o Prof. Hill: "foi essa coragem e confiança que capacitavam os Puritanos a lutar por meio de armas espirituais, econômicas ou militares, para criar um mundo novo, digno daquele Deus que os havia abençoado de forma tão marcante". O Dr. Perry Miller da Universidade de Harvard, que é o grande historiador dos Puritanos nos E.E.U.U., certa vez disse: “É impossível você imaginar um Puritano sem esperança; eles criam na Soberania de Deus, e isso os fazia agir em face de qualquer dificuldade. Eles sabiam perfeitamente que, se Deus é por nós, nada ou ninguém pode ser contra nós, eram em sua maioria adeptos das teorias calvinistas”.
Eles estavam preocupados em agradar ao Senhor Jesus e não a humanos, pois não queriam comprometer a sua fé.
Segundo Rev. Augustus Nicodemus Lopes: “eles estavam convencidos de que, uma vez que o Senhor Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, não podiam ser derrotados de forma alguma se Deus estivesse ao lado deles”.
Os puritanos davam grande importância na vocação de cada pessoa, é neste ponto que a oikonomia da época começa a sofrer grandes transformações. Eles ensinavam a cada um, a necessidade de glorificar a Deus através da vocação secular, o sacerdócio universal ensinado pelos protestantes no início da Reforma, mesmo estudiosos marxistas do século XX, como o Professor Arcangius de Leningrado, dá crédito aos Puritanos por terem elevado a moral da classe trabalhadora da Inglaterra naquele período.
Ao invés de distribuir recursos aos mais necessitados, segundo Rev. Augustus Nicodemus Lopes: “...os Puritanos organizaram sociedades e sistemas, que pudessem ajudar estas pessoas a aprender uma vocação. Eles diziam às pessoas pobres que elas haviam sido criadas à imagem de Deus tanto quanto o Rei, e que o sangue de Jesus tinha sido derramado por todo tipo de pessoas, que eles haviam sido chamados para servir a Deus em suas vidas de acordo com o propósito de Deus”.
Isso alavancou a moral dos mais pobres, que começaram a descobrir seus talentos, através de treinamentos dados pelos puritanos e usaram o mesmo em favor dos lugares onde moravam. As mudanças começavam a acontecer, e os crimes caíram profundamente neste período, pois o fim principal era agradar a Deus, seja rico, ou seja, pobre.
Os puritanos aplicavam no dia a dia tudo que aprendiam dentro da igreja, diziam que para agradar a Deus, as profissões não tinham diferença, que em todo lugar estavam na presença de Deus, que tinham um chamado para mudar cada área da vida em algo santo para Deus. Por causa do teor das pregações, de igualdade perante o Criador, muitas igrejas fecharam a porta para os puritanos, foi quando homens simpatizantes da causa puritana auxiliaram financeiramente com os juros de seus negócios esses pregadores, eles acreditavam que pela pregação da Palavra a economia inglesa cresceria e aumentariam ainda mais suas rendas.
Outro ponto que os puritanos queriam reformar, além do coração das pessoas, era o intelecto, para que fossem bem educados e preparados para ouvir, e com o ouvir com o coração cheio de fervor a amor a Deus, mudariam a vida da comunidade em que viviam, o intelecto e o coração, que os puritanos chamavam de auto-controle, uma meditação contínua na Palavra de Deus.
Existia comunhão dentro da família, o que trouxe uma nova ternura e um refinamento aos sentimentos às afeições do lar, eles voltavam da igreja e conversavam a respeito do sermão com seus filhos, criaram assim o culto doméstico, o que muitos sociólogos chamaram de espiritualização da família. Os pais ensinavam seus filhos a ter uma profissão, para que os mesmos não se envolvessem em crimes, seja qual for o tipo de vocação. Esse fator gerou um senso de responsabilidade e diligencia na história de colonização dos Estados Unidos. Até a ascensão de muitos pobres, na época tinha influencia puritana, o Professor Jordan escreveu um livro importante: "Filantropia na Inglaterra - 1480/1660". Neste livro, ele mostra que os puritanos fizeram mais do que qualquer outro grupo para esvaziar as favelas, diminuir o crime e acabar com a pobreza.
Os pobres tiveram grande assistência puritana, pois acreditavam que a misericórdia de Deus devia ser demonstrada a todas as pessoas de forma prática. Eles não eram socialistas, pois defendiam o direito da propriedade privada, mas reestruturaram a economia, e lutaram contra os direitos coletivos, a ponto de pedir a queda de governos que fossem tiranos. Um fato importante é que esses puritanos calvinistas auxiliaram na revolução americana, com mais de dois terços da população envolvida.
Como o Rev. Augustus Nicodemus Lopes citou: “Jovens fortes, intelectuais, progressistas, atuais, caçavam, praticavam esportes, usavam roupas coloridas e faziam amor com suas mulheres, tudo isto para Glória de Deus, que os colocou em posição de liberdade. Não eram soberbos, melancólicos ou severos”.
Olhavam a vida através da lente ampla da Soberania de Deus em todas as áreas de sua vida. “Estavam no mundo, mas não eram do mundo”.
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[1] LOPES, Augustus Nicodemus. Pregação puritana (1). in: Jornal Os Puritanos Ano II - Número 3 (Junho 1993), pp. 7-9.
terça-feira, 17 de abril de 2012
Meditação ao Receber os Elementos da Ceia
“Maravilhoso texto referente a meditação na Santa Ceia postado na devocional de Os Puritanos e extraído do livro A Prática da Piedade, Lewis Bayly, Editora PES, p. 342-345. A mente sendo exercitada em sua comunhão mística com Cristo e o valor de sua magnífica obra na Cruz.
Sinto falta do povo de Deus verdadeiramente “tocado” pelo poder transformador desta santa ordenança, de toda a preparação espiritual e de significado nela contido. O ápice de nossa comunhão, um meio de graça carinhosamente exercitado em favor dos santos.
Rogo ao Senhor que tenha piedade de nós e toque em nossos corações e aplique de forma eficaz e plena os frutos de incomensurável benção”.
Quando o ministro lhe trouxer e lhe oferecer o pão já abençoado e partido, apreste-se para recebê-lo, tome-o, coma-o, e então medite. Na meditação, pense nisto: Cristo vem até você e oferece e dá à sua fé o Seu corpo e o Seu sangue, com todos os méritos da Sua paixão e morte, para alimentar a sua alma para a vida eterna. Este glorioso fato se dá tão certamente como é certo que o ministro oferece e dá os sinais externos que alimentam o seu corpo para a vida temporal. O pão do Senhor é dado pelo ministro, mas o pão que é o Senhor é dado pelo próprio Cristo.
Quando você tomar o pão da mão do ministro para comê-lo,[i] eleve sua alma para apreender Cristo pela fé, e para aplicar os Seus méritos para curar as suas misérias. Abraçe-O gentilmente com a sua fé ao participar da ordenança, como uma vez Simeão O abraçou ainda bebê, nos panos que O envolviam.
Enquanto estiver comendo o pão, imagine Cristo pendurado da cruz, satisfazendo a justiça de Deus por seus pecados e sofrendo tormentos indescritíveis. Empenhe-se em apropriar-se tão verdadeiramente da graça espiritual como concretamente se apropria dos sinais elementares. Pois a verdade não está ausente do sinal, e Cristo não fala enganosamente quando diz: "Isto é o meu corpo". Ele se dá realmente a toda alma que O recebe espiritualmente pela fé. Sim, pois, assim como a nossa Ceia é a mesma que Cristo administrou, assim também o mesmo Cristo está verdadeiramente presente em Sua Ceia, não por algo como a transubstanciação papal, mas sim por uma participação sacramental,[ii] pela qual Ele alimenta verdadeiramente o participante digno para a vida eterna. Ele o faz, não descendo do céu e vindo a você, mas elevando você da terra até Ele, conforme a antiga expressão, Sursum corda,[iii] elevem seus corações. O que lembra também as palavras de Jesus Cristo: "Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias" (Mt. 24:28).
Quando você vir o vinho sendo trazido a você, separado do pão, lembre-se de que o sangue de Jesus Cristo também foi separado do Seu corpo na cruz, para a remissão dos seus pecados. Lembre-se igualmente de que o Seu sangue é o selo da nova aliança, que Deus fez para perdoar todos os pecados dos pecadores penitentes que creem nos méritos do Seu sangue derramado. Pois o vinho não é uma ordenança do sangue de Cristo contido em Suas veias, mas sim o Seu sangue derramado do Seu corpo na cruz, para a remissão dos pecados de todos os que nEle creem.
Quando você beber o vinho, medite e creia que, pelos méritos do sangue que Cristo derramou na cruz, todos os seus pecados foram tão verdadeiramente perdoados como agora é certo que você bebeu este vinho memorial e o recebeu pela fé. E, no instante em que o beber, fixe a sua meditação em Cristo, pendurado no madeiro, como se, à semelhança de Maria e João, O visse ali cravado e visse o Seu sangue correndo abaixo do Seu lado bendito, da horrível ferida feita pela lança em Seu puro e inocente coração. Imagine sua boca colada a Seu lado, para receber o precioso sangue antes de este cair na terra empoeirada.
E, todavia, beber de fato o sangue real com a sua boca não seria em nada eficaz como eficaz é este beber sacramental espiritual daquele sangue pela fé (Mt. 26:28). Pois qualquer dos soldados poderia ter bebido o sangue real derramado na cruz e continuar sendo um réprobo. Mas todo aquele que o beber espiritualmente, na ordenança, pela fé, certamente terá a remissão dos seus pecados e a vida eterna.[iv]
Assim como você sente o vinho memorial que bebeu aquecer o seu frio estômago, assim também faça empenho em exercer sua fé para sentir o Espírito Santo animar sua alma com a jubilosa certeza do perdão de todos os seus pecados, pelo mérito do sangue de Cristo. E com esse fim Deus dá a toda alma fiel, junto com o sangue memorial, o Espírito Santo para beber: "Todos temos bebido de um Espírito" (1 Co. 12: 13). Por isso, erga sua mente da contemplação de Cristo, morto na cruz, para considerá-Ia agora assentado na glória, à destra do Seu Pai, fazendo intercessão por você (Rm. 8:34; Hb. 7:25; 9:24), pela apresentação que faz a Seu Pai dos inapreciáveis méritos da morte que Ele sofreu por você uma vez por todas, para aplacar a Sua justiça pelos pecados que você comete diariamente contra Ele.
Depois de comer o pão e beber o vinho, trabalhe no sentido de que, conforme esses sinais memoriais se tornam a nutrição do seu corpo, e pelo calor da digestão se tornam um com a substância física do seu corpo, assim a operação da fé e do Espírito Santo torne você um com Cristo, e Cristo um com você, e assim você sinta a sua comunhão com Cristo confirmada e aumentada diariamente, cada vez mais (1 Co.10:17).[v] Considere então que, assim como é impossível separar o pão e o vinho digeridos junto ao sangue e à substância do seu corpo, assim também, e ainda mais, é impossível separar Cristo da sua alma, e sua alma de Cristo.
Por último, assim como o pão da ordenança, embora composto de muitos grãos, forma um só pão, assim também você deve lembrar que, embora todos os crentes sejam muitos, todos eles são, no entanto, apenas um corpo místico, do qual Cristo é a Cabeça. Por isso você deve amar todo cristão como a si mesmo, como membro do seu corpo.
Vimos, pois, os deveres a serem cumpridos quando do recebimento dos elementos da Ceia, processo ao qual damos o nome de meditação.
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Extraído do excelente livro A Prática da Piedade, Lewis Bayly, Editora PES, pp. 342-345
[i] Sacramentum requirit sacram mentem. {O sacramento requer mente sacra.}
[ii] Cristo lhe chama Seu corpo, não sinal do Seu corpo, porque este sacramento foi instituído não só para significar algo, mas também para comunicar as graças espirituais que ele representa, e pelos sinais levar nossas mentes às graças significadas. Vemos pronunciar-se dessa forma Eutimium, sobre Mat., capítulo 26, quando diz: "Non dixit dominus, Haec sunt signa corporis mei, sed hoc est cor pus meum. Oportet ergo, non ad naturam eorum que proposua sunt aspicere, sed ad ipsorum virtutem et gratiam. Non hoc cor pus quod videtis manducaturi estis, et bibituri illum sanguinem quem fusuri sunt qui me crucifigent. Sacramentum aliquid vobis commendo; spiritualiter intellectum vivificabit vos". {O Senhor não disse, estes são sinais do meu corpo, mas, isto é o meu corpo. Logo, convém não atentar para a natureza deles, cujo propósito é que os observemos, mas sim à sua virtude e à sua graça propriamente ditas. Não é o corpo, que vedes para o comerdes, nem o sangue derramado, que vedes para o beberdes, que me colocam na cruz. O sacramento que recomendo é o que é entendido espiritualmente; este vos vivificará.} -Aug. in Psal. xcvii, falando sobre a pessoa de Cristo. Os discípulos não comeram corporal e substancialmente Cristo na primeira celebração da Ceia; tampouco o fazemos nós na repetição da mesma Ceia.
[iii] Do latim que significa «levantar vossos corações "
[iv] Se a remissão dos pecados e a vida eterna fossem apropriados pelo ato de beber o sangue real, sem dúvida João e Maria teriam dado um jeito de bebê-lo; mas João atribui a virtude à fé em que o sangue foi derramado para remissão.
[v] Unus este panis communi notione sacramenti, non, auten necessário unus numero. (É um só pão pela experiência comum do sacramento, mas não necessariamente um em número
quinta-feira, 5 de abril de 2012
VARÃO E VAROA, ESTAMOS NO SÉCULO XXI
Segue abaixo um texto elaborado pelo Pastor, Teólogo e Doutor em Filosofia Jonas Madureira. Resolvi postalo por entender ser de extrema relevância ao nosso contexto e provocador ao cristão contemporâneo. Que Deus no ilumine e torne a nossa pregação tão relevante e digna como a Cristo Nosso Senhor.
Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
(Lucas 15.1)
É inegável que o cristianismo contemporâneo vive a crise da relevância. Os novos críticos do cristianismo não se cansam de dizer que o discurso dos cristãos cheira naftalina, é tão antiquado, fora de moda e irrelevante. Para ilustrar esse fato, lembro-me de que, há poucos dias, um colega da USP, sabendo que sou cristão, se aproximou de mim e, sem rodeios, perguntou-me: “Por que muitos evangélicos falam tão esquisito? Eles chamam uns aos outros de varão e varoa! Abusam dos arcaísmos! Usam expressões tão ultrapassadas que às vezes me sinto nos dias de Olavo Bilac!” Dureza, não?! Expliquei que muitas das versões bíblicas que as pessoas leem são muito antigas, e, por esse motivo, acabam trazendo o vocabulário delas para o dia a dia. “Que bizarro!”, disse meu colega. E incomodado com isso, perguntei: “Por que bizarro?”. Ele prontamente me respondeu: “Porque isso assusta qualquer um! É uma linguagem muito distante da realidade!”. Nessa hora, infelizmente, tive que concordar com ele. Nossa linguagem, às vezes, é tão descontextualizada que, em vez de atrair, assusta os publicanos e pecadores de nossos dias.
O que acho mais interessante no texto de Lucas 15 é o fato de que os publicanos e pecadores não se aproximaram de Jesus para pedir um milagre, uma bênção. Pelo contrário, se aproximaram dele só para ouvi-lo. Isso aconteceu porque a pregação de Jesus era empolgante, o Mestre era verdadeiramente relevante. Veja a bela imagem que Lucas nos oferece: o Filho de Deus, sentado à mesa com publicanos e pecadores, completamente atraídos pelo seu discurso. Ou seja, Lucas mostrou que Jesus era interessante não apenas por causa dos milagres que fazia, mas principalmente por causa de seu pensamento, de sua capacidade de ler o coração dos homens e de expor os desígnios de Deus, com ousadia, sabedoria e relevância.
Ouvindo algumas pregações aqui e acolá, em canais de TV e em igrejas, percebo que muitos dos discursos e pregações de nossos dias estão muito distantes de ser comparados às pregações empolgantes de Jesus. Acredito que uma das razões seja a nossa incapacidade de ler nosso tempo, agravada pela pobreza de nossa leitura dos desígnios de Deus, expressos nas Escrituras. Quando digo “ler nosso tempo”, digo “ler as pessoas de nossos dias”. Jesus entendia o homem de seu tempo como ninguém. Ele compreendia as questões que o homem de seu tempo fazia e, por isso, respondia de forma relevante aos publicanos e pecadores de seu tempo.
Em contrapartida, nossa leitura do varão hodierno — ops! do homem de hoje! — é vergonhosa. Não entendemos seus pensamentos, não entendemos suas questões. Às vezes, tenho a impressão de que a maioria de nós está falando para homens do século XIX, e não só com uma linguagem oitocentista, mas — o que é pior ainda — usando uma lógica e um tipo de reflexão e postura intelectual que é típico do universo espiritual oitocentista.
A verdade é que alguns sermões de hoje se tornam irrelevantes porque apenas respondem às perguntas que o homem do século XIX fazia. São sermões tão distantes do século XXI, que dão sono! Cá para nós, às vezes me pergunto se isso acontece por causa do delay de publicações das obras teológicas oitocentistas, que são publicadas hoje em dia como “grandes lançamentos do ano”. Sinceramente, não sei. O que sei é que, se queremos proclamar o reino de Deus para o nosso tempo, temos de nos livrar de nossas lentes oitocentistas. Precisamos ler o homem de nossos dias, com lentes apropriadas para o século XXI.
O homem de hoje é um homem sem transcendente, ou melhor, um homem deslumbrado com o imanente, que passa a ser tomado como se fosse transcendente. Em outras palavras, alguém que trocou a adoração a Deus pela veneração ao carro do ano, ao último modelo de celular, de notebook, de TV e por aí vai. Por isso, as megaigrejas estão tão cheias. E garanto que não é pela relevância do discurso, mas pela exploração da angústia do homem moderno. Este vai à igreja não mais para simplesmente adorar, mas para clamar a Deus por um carro novo, uma casa maior, mais dinheiro, mais sucesso, mais poder. A tara por essas bênçãos materiais mostra o quanto somos niilistas, vazios, sem um sentido ulterior para vida, que seja superior a tudo o que está preso ao tempo e ao espaço.
Não precisamos de sermões que alimentem nossa angústia niilista. Precisamos de sermões que nos conscientizem de nossa real situação. Sermões que revelem as novas faces de nossas depravações e desesperos. Sermões que sejam resultado de uma exegese bíblica cuidadosa e contextualizada, e, ao mesmo tempo, conscientes de que nossa inteligência e compreensão devem ser submetidas à luz do Espírito, o único que nos permite ver o Jesus supracultural, supratemporal, preexistente, Filho de Deus, Senhor do tempo, da história, da terra e do céu. Sermões que nos sirvam como espelhos para mostrar a face sofrida e angustiada de nosso coração, tão longe da busca pelo transcendente e tão entregue à busca exacerbada por bens transitórios. Só assim haverá conversão genuína, adoração verdadeira, pregação relevante. Só assim publicanos e pecadores de nosso tempo deixarão de se assustar com esse nosso esquisito jeito oitocentista de ser, e se aproximarão de nós para conhecer o Jesus do século XXI, que, paradoxalmente, em nada deve ser menos atraente do que o Jesus do século I.
Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
(Lucas 15.1)
É inegável que o cristianismo contemporâneo vive a crise da relevância. Os novos críticos do cristianismo não se cansam de dizer que o discurso dos cristãos cheira naftalina, é tão antiquado, fora de moda e irrelevante. Para ilustrar esse fato, lembro-me de que, há poucos dias, um colega da USP, sabendo que sou cristão, se aproximou de mim e, sem rodeios, perguntou-me: “Por que muitos evangélicos falam tão esquisito? Eles chamam uns aos outros de varão e varoa! Abusam dos arcaísmos! Usam expressões tão ultrapassadas que às vezes me sinto nos dias de Olavo Bilac!” Dureza, não?! Expliquei que muitas das versões bíblicas que as pessoas leem são muito antigas, e, por esse motivo, acabam trazendo o vocabulário delas para o dia a dia. “Que bizarro!”, disse meu colega. E incomodado com isso, perguntei: “Por que bizarro?”. Ele prontamente me respondeu: “Porque isso assusta qualquer um! É uma linguagem muito distante da realidade!”. Nessa hora, infelizmente, tive que concordar com ele. Nossa linguagem, às vezes, é tão descontextualizada que, em vez de atrair, assusta os publicanos e pecadores de nossos dias.
O que acho mais interessante no texto de Lucas 15 é o fato de que os publicanos e pecadores não se aproximaram de Jesus para pedir um milagre, uma bênção. Pelo contrário, se aproximaram dele só para ouvi-lo. Isso aconteceu porque a pregação de Jesus era empolgante, o Mestre era verdadeiramente relevante. Veja a bela imagem que Lucas nos oferece: o Filho de Deus, sentado à mesa com publicanos e pecadores, completamente atraídos pelo seu discurso. Ou seja, Lucas mostrou que Jesus era interessante não apenas por causa dos milagres que fazia, mas principalmente por causa de seu pensamento, de sua capacidade de ler o coração dos homens e de expor os desígnios de Deus, com ousadia, sabedoria e relevância.
Ouvindo algumas pregações aqui e acolá, em canais de TV e em igrejas, percebo que muitos dos discursos e pregações de nossos dias estão muito distantes de ser comparados às pregações empolgantes de Jesus. Acredito que uma das razões seja a nossa incapacidade de ler nosso tempo, agravada pela pobreza de nossa leitura dos desígnios de Deus, expressos nas Escrituras. Quando digo “ler nosso tempo”, digo “ler as pessoas de nossos dias”. Jesus entendia o homem de seu tempo como ninguém. Ele compreendia as questões que o homem de seu tempo fazia e, por isso, respondia de forma relevante aos publicanos e pecadores de seu tempo.
Em contrapartida, nossa leitura do varão hodierno — ops! do homem de hoje! — é vergonhosa. Não entendemos seus pensamentos, não entendemos suas questões. Às vezes, tenho a impressão de que a maioria de nós está falando para homens do século XIX, e não só com uma linguagem oitocentista, mas — o que é pior ainda — usando uma lógica e um tipo de reflexão e postura intelectual que é típico do universo espiritual oitocentista.
A verdade é que alguns sermões de hoje se tornam irrelevantes porque apenas respondem às perguntas que o homem do século XIX fazia. São sermões tão distantes do século XXI, que dão sono! Cá para nós, às vezes me pergunto se isso acontece por causa do delay de publicações das obras teológicas oitocentistas, que são publicadas hoje em dia como “grandes lançamentos do ano”. Sinceramente, não sei. O que sei é que, se queremos proclamar o reino de Deus para o nosso tempo, temos de nos livrar de nossas lentes oitocentistas. Precisamos ler o homem de nossos dias, com lentes apropriadas para o século XXI.
O homem de hoje é um homem sem transcendente, ou melhor, um homem deslumbrado com o imanente, que passa a ser tomado como se fosse transcendente. Em outras palavras, alguém que trocou a adoração a Deus pela veneração ao carro do ano, ao último modelo de celular, de notebook, de TV e por aí vai. Por isso, as megaigrejas estão tão cheias. E garanto que não é pela relevância do discurso, mas pela exploração da angústia do homem moderno. Este vai à igreja não mais para simplesmente adorar, mas para clamar a Deus por um carro novo, uma casa maior, mais dinheiro, mais sucesso, mais poder. A tara por essas bênçãos materiais mostra o quanto somos niilistas, vazios, sem um sentido ulterior para vida, que seja superior a tudo o que está preso ao tempo e ao espaço.
Não precisamos de sermões que alimentem nossa angústia niilista. Precisamos de sermões que nos conscientizem de nossa real situação. Sermões que revelem as novas faces de nossas depravações e desesperos. Sermões que sejam resultado de uma exegese bíblica cuidadosa e contextualizada, e, ao mesmo tempo, conscientes de que nossa inteligência e compreensão devem ser submetidas à luz do Espírito, o único que nos permite ver o Jesus supracultural, supratemporal, preexistente, Filho de Deus, Senhor do tempo, da história, da terra e do céu. Sermões que nos sirvam como espelhos para mostrar a face sofrida e angustiada de nosso coração, tão longe da busca pelo transcendente e tão entregue à busca exacerbada por bens transitórios. Só assim haverá conversão genuína, adoração verdadeira, pregação relevante. Só assim publicanos e pecadores de nosso tempo deixarão de se assustar com esse nosso esquisito jeito oitocentista de ser, e se aproximarão de nós para conhecer o Jesus do século XXI, que, paradoxalmente, em nada deve ser menos atraente do que o Jesus do século I.
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